Ficção

Mudando as Leis

Estou escrevendo uma novela. Realismo fantástico, um pouco inspirada em Garcia Marques, outro pouco em Dostoievski, com algumas pitadas de Shakespeare. O tema gira em torno de uma cidade da Mesopotâmia no ano de 2043 AC, onde os palácios têm dois andares e pátio interno com chafariz. A moça mais bonita da cidade está prestes a se casar com o filho do Visir, caminham adiantados os preparativos para a maior festa da antiguidade como anuncia o arauto oficial. Um dos convidados é o ditador da cidade vizinha, cheia de óleo de pedra que custa os olhos da cara. Ao chegar em visita de cortesia Chaveco fica impressionado com a beleza da noiva e resolve que ele é que vai casar com a moça. Esqueci de dizer que Chaveco é o ditador em questão. Sua primeira atitude é enviar presentes, quatro camelos, duas cabras leiteiras e um escravo núbio ao pai da garota. Depois ela é agraciada com colares e pulseiras de ouro e pedras preciosas, além de frascos contendo os melhores perfumes da Lutécia. A moça diz que não pode aceitar a oferta, está comprometida embora ao notar a riqueza do pretendente comece a fazer planos para as compras em Tebas, a Miami daqueles tempos. Infelizmente para ela as leis da cidade são claras, compromisso assumido não pode ser quebrado. O ditador Chaveco coloca em prática um plano estratégico, chaveca os vereadores, subornando-os para mudar a lei tornando possível a quebra de juramentos. Dessa forma se torna viável a união da bela “peruinha” com o ditador de 83 anos. O noivo preterido, Cornélius, filho do Visir, tenta o suicídio lançando-se do alto da Tarpéia, pedra assaz popular entre suicidas. Enquanto isso, o ditador encorajado pela beleza da esposa toma dois comprimidos de Viagra e fica confuso, todos sabem que Viagra deixa confuso, o cara vota uma coisa agora, outra daqui a pouco, fica parecendo chapado como diz um conhecido que não é exatamente uma freirinha. Para encurtar a história, o esforço matou o ditador, que bateu as botas como um passarinho, sem dar um pio. O povo frustrado com o casamento não consumado nunca mais votou naqueles vereadores, que sem mandato, tiveram de trabalhar o que em se tratando de políticos é um grande sacrifício. Desde essa data ficou estabelecido que vereadores que aceitam suborno para mudar leis de acordo com interesses momentâneos e não raro prejudiciais à comunidade, acabam recebendo o devido castigo. Quanto ao rapaz que se lançou da pedra, torceu o tornozelo na queda e foi socorrido por uma sereia que pegava um bronze. Papo vai papo vem hoje ele vive nos domínios de Netuno com emprego público, estabilidade e um cardume de sereiazinhas em volta. Como é bom ser escritor e trabalhar com ficção, essas coisas jamais acontecem no plano real onde os vereadores pensam no bem comum e são honestos, principalmente em Ubatuba, minha linda cidade. (Sidney Borges)

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