Nasce um mártir do Islã

Enforcaram o morto

Mataram Saddam Hussein. O mundo pode respirar aliviado. O tirano enforcado já não fará mal às criancinhas. Os governantes do Império parecem não compreender o alcance das mensagens, eles que dominam os meios onde elas trafegam. Passaram anos dizendo ao mundo que Saddam era um tirano sanguinário, embora alguns afirmassem haver nele um lado modernizador que mudou a face do Iraque. Saddam chegou a comer peru no dia de ação de graças. O queridinho dos americanos foi armado até os dentes para enfrentar o demônio xiita do Irã. No período da lua de mel o apoio ao ditador chegou a abalar a aliança americana com Israel que destruiu instalações nucleares iraquianas sem que o chefe soubesse. O super canhão do canadense Bull, que poderia lançar projéteis sobre Tel-Aviv azedou o caldo de vez. Agentes da CIA e do Mossad torciam o nariz uns para os outros, quando não cuspiam de lado. Qual a vantagem de matar um morto? No imaginário dos muçulmanos, mártires têm grande significado e Saddam foi transformado em mártir. Preso, o ex-ditador perdeu a pose, a majestade, a arrogância. Sem as fardas carnavalescas e os capangas ao lado, com roupas civis modestas, parecia inofensivo. O estímulo visual é da maior importância, o dito popular que afirma: “o que os olhos não vêem, o coração não sente” traduz fielmente a nossa forma de ser. As imagens dos crimes de Saddam nunca apareceram na mídia com a freqüência com que ele, em seus últimos dias, foi exposto. E nessas ocasiões a televisão exibiu um velhinho fraco e frágil. Digno de compaixão. Os jornais pós-enforcamento mostram que o mundo não aprovou. Mais uma vez os americanos alimentaram com ração dupla a fera que vai mordê-los nos calcanhares. A retaliação certamente virá. Ações como essas reforçam a minha convicção de que o ser humano nasce com defeito de fabricação. Sem possibilidade de conserto.

Sidney Borges

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