Opinião

“A cada um o que é dele”
“Daí, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”(Mat. 22-21).

Corsino Aliste Mezquita
No ócio intelectual que, freqüentemente, tenho oportunidade de desfrutar deparei com página inteira do semanário “A CIDADE”, n° 1.067, de 10 de junho de 2006, pg. 11, sob o título: “RESGATANDO 20 ANOS EM 4”. Analisei fotos, imagens e textos. A fotografia do Sr. Prefeito, Eduardo de Souza César, está presente em todas as fotos dos canteiros de obras, lá retratados.
Curioso observar que o dispositivo constitucional determina: “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridade ou servidores públicos”. (CF Art. 37 $ 1°). A publicidade, acima citada, está em total desacordo com o dispositivo constitucional.
Como considerar resgate um claro e patente desrespeito ao texto constitucional?. Terão esquecido, os homens no poder, o juramento que fizeram no dia da investidura em seus cargos?. Como cidadão só nos cabe registrar que: “triste do povo em que seus governantes não respeitam a Constituição que juraram cumprir”. Certamente estará chamado ao caos, à desordem e à injustiça.
Observa-se em nível local e nacional um certo desrespeito com a lei, as pessoas e as instituições. Esse desrespeito, por parte das autoridades, está levando nossa sociedade ao medo, à insegurança, o silêncio, a revolta e a que grupos extremados e violentos, às vezes patrocinados por governantes, semeiem os horrores do seqüestro, a invasão, a depredação, o roubo, o assalto, a difamação, a calúnia e a morte.
Deixando de lado os aspectos legais e éticos da publicidade convidamos, o eventual leitor, a fazer uma sucinta análise do título e do conteúdo: “Resgatar 20 anos em 4”.


O TÍTULO
“Resgatar 20 anos em 4” é uma afirmativa categórica. Indica que Pedro Paulo Teixeira Pinto, José Nélio de Carvalho, Paulo Ramos de Oliveira, Euclides Luis Vigneiron e Paulo Ramos de Oliveira, prefeitos nos últimos 20 anos, nada fizeram pelo município, nada construíram, o município não evoluiu, esteve parado no tempo e que, agora, chegou um prefeito “milagreiro” que vai fazer desta terra um “SANGRILÁ” ou um reino de “JAUJA”.
A história não concede guarida para essa tese. Nesse período o município teve a sua população quase triplicada, construiu dezenas de escolas para atender as crianças, asfaltou ruas e estradas, construiu a Prefeitura Municipal, desapropriou dezenas de imóveis e, os Senhores Prefeitos, administraram o município e resolveram seus problemas de acordo com as circunstâncias e os recursos disponíveis em cada momento. Resolveram os problemas sem criar outros.
Publicar que “está se resgatando 20 anos em 4” nos parece uma inverdade, desrespeito ao passado e a todos que contribuíram com seu trabalho, seus investimentos, sua inteligência para que Ubatuba seja como é hoje. Nada do que hoje está sendo feito, poderia ser feito, sem o alicerce do passado e as ações que foram praticadas pelos antecessores.

O CONTEÚDO
Observando a página pode-se notar que o resgate estaria sendo feito com canteiros de obras que se encontram, na sua maior parte, em início de construção e que, algumas delas, (Sede da Liga de Futebol, Praça Cícero Gomes, Muro do Cemitério, Praça Paris, Praça Teresa de Souza César, etc) pouco contribuirão para o resgate de que Ubatuba necessita. Contrariamente está se dando importância a ações que nada de transcendente significam. Nas praças, ocupadas por quadras esportivas ou campinhos de futebol, o que se está fazendo é desviar a sua função e criar sérios problemas para os moradores do entorno.
Examinando as obras de maior porte constata-se que são financiadas pelo Governo do Estado e que algumas já foram conveniadas e realizados seus projetos na administração anterior. Onde estaria o resgate?. Dar continuidade às ações, já programadas, não significa resgatar nada. Deve ser um ato rotineiro de toda administração séria.
No caso particular das escolas do HORTO-FIGUEIRA e do IPIRANGUINHA já deveriam ter sido construídas em 2005 e estarem prestando serviços à comunidade. A administração atual recebeu convênio com o Estado, projetos aprovados, área e previsão orçamentária para realizar essas obras em 2005. A lição de casa não foi feita, naquele ano. Onde está o tal do resgate?. Apenas está se dando continuidade, tardia e cara, a ações anteriormente projetadas por outros administradores.
As obras da SP 125, Rodovia Oswaldo Cruz, não pode ser apropriada pela administração municipal. São obras do Governo do Estado e a ELE devem ser creditados os dividendos.
Estamos em ano eleitoral. O Sr. Ex-Governador, que concedeu todas essas obras, é candidato à Presidência da República. Não atribuir a cada um aquilo que lhe pertence pode ser um erro político grave e gerar conseqüências nefastas para o município.
Todos desejamos que Ubatuba progrida, que sejam realizadas grandes obras e resolvidos seus problemas sem criar outros mas, descontando as obras insignificantes, as herdadas e as financiadas pelo Governo do Estado, não encontramos explicação para a frase: “Resgatando 20 anos em 4”. Até o momento nem a lição do dia a dia está sendo bem feita. Resgate é apenas uma palavra desgastada. Parafraseando a frase inicial : “O César não pode usurpar o que é de Deus”.

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