Editorial

Viva a liberdade

Quando D. Pedro II aboliu a escravidão nem todos aderiram. Grande parte dos senhores feudais que ainda vicejam por estas bandas foi contra. Uma das regiões que mais se empenhou na luta pela permanência dos escravos foi o Vale do Paraíba, como atestam os livros de história. Dá para imaginar que se não tivesse havido pressão internacional ainda estaríamos vivenciando a prática ignóbil. De certa forma, não há muita distância entre a escravidão oficial que teoricamente foi abolida e a realidade dos desafortunados que nascem nas periferias de nossas cidades, ou nos grotões interioranos deste imenso e atrasado país. Dizem que o Brasil é rico porque tem terras férteis, minérios variados, clima ameno e um imenso território, capaz de abrigar várias vezes sua população. Segundo esse critério, o Japão é pobre, poder-se-ia até ir mais longe e dizer que é paupérrimo. Não tendo riquezas naturais, com clima hostil, terremotos e furacões e uma população que mal cabe no arquipélago, o país oriental contraria qualquer lógica e faz troça do conservadorismo brasileiro. O Japão é rico enquanto o Brasil é pobre. Como justificar tal contradição? Há séculos os governos japoneses investem em seus cidadãos, que são educados e preparados. Exatamente o que não é feito no Brasil. O evidente descaso dos governos brasileiros pelo povo é fruto da escravidão. A mentalidade impregnou na alma brasileira e vai demorar séculos para desentranhar. De qualquer forma hoje é dia de dar um viva à nação africana, a quem tanto o Brasil deve. Foram os negros que construíram este país e nos trouxeram alegria e ritmo para compensar a melancolia da alma lusitana, eternamente atormentada pelo medo do fogo eterno e sempre a pecar. Abaixo a escravidão.

Sidney Borges

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