Espaço do leitor

Reflexão sobre valores

Wendell Pestallozzi
Num dia desses qualquer, recebi a visita de um dos meus sobrinhos. Ele mora perto de onde moro; estuda no mesmo bairro, em escola pública. Está iniciando o primeiro ano do ensino médio. Uma das matérias que sempre o empolga é a Filosofia; tenho a impressão que ela lhe possibilita muitas novas pistas de reflexão. Ainda irei conhecer o seu professor e dizer o quanto está sendo importante aos alunos ter tal oportunidade. Quando eu estava nesse nível, ainda na década de 1960, os militares proibiram tal disciplina na escola sem nunca dizer o porquê disso. O que eu reproduzo a seguir é parte de um texto que eles trabalharam em grupos. O tema era sobre a ética. A narrativa é de um professor.

“Em um dia desses, na sala de aula, com adolescentes do ensino médio, reparei bem naqueles que se destacavam por indisciplina: alguns se estapeavam, outros não paravam em seus lugares, havia aqueles que fingiam fazer alguma coisa enquanto copiavam tudo do colega, etc. Também não é incomum se encontrar nos cantos alguém que é maldoso, sempre maquinando ao menos um cascudo em alguém. Os fracos nos estudos sempre buscam os pontos mais distantes do professor. Eles temem o quê? Nisso que eu ia refletindo e anotando no diário os elementos que se destacavam negativamente, vejo dois das ‘figurinhas’ arrancando os bonés. Bonés, isso mesmo!!! Essa coisa geralmente encardida e fedida que serve para esconder alguns alunos. Dito de outra forma: nós ainda vemos muitos adolescentes e jovens que precisam de um boné para se sentir em segurança. Para encurtar o caso, os dois chegaram perto da minha mesa, dando oportunidade para pegar o boné de um deles e ameaçar jogar no lixo. Ah!!! Você imagina o escândalo do bonitinho? Ele me desafiou a jogar mesmo. Nesse momento eu devolvi a tal coisa nojenta; já tinha alcançado o meu objetivo: completei a minha avaliação sobre o tal aluno. Concluí que aquele objeto valia mais do que o dono. Não era ele que merecia ir para o lugar de coisas descartadas. Disso retomo o meu trabalho na educação: fazer com que as pessoas reflitam; recuperem ou aprendam o seu verdadeiro valor. Faço das palavras de André Comte-Sponville a minha conclusão: “Toda filosofia é um combate. Sua arma? A razão. Seus inimigos? A tolice, o fanatismo, o obscurantismo. Seus aliados? As ciências. Seu objeto? O todo, com o homem dentro. Ou o homem, mas no todo. Sua finalidade? A sabedoria”.

Com o texto em mãos, perguntei ao meu sobrinho: - Por que você gostou deste texto?

- Ora, titio! Na conversa em grupo nós chegamos à conclusão que a nossa turma também é assim. A nossa classe está lotada, perto de 45 alunos. Tem vários colegas que não sabem nem ser educados, cansam os professores e os funcionários da escola. Parece que só sabem palavrões. Essa forma de linguagem deve ser o dialeto de suas casas. Em seguida, escrevemos algumas pistas que podem mudar este quadro escolar. Acho que o professor comentará na próxima aula.

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