Deu em O Globo

Disputa de poder

Merval Pereira
O anúncio de que o programa de governo da candidata oficial, Dilma Rousseff, será revisto mais uma vez, para refletir com mais clareza as intenções da coligação PT-PMDB, denuncia os problemas que estão sendo enfrentados para tornar realidade uma coalizão partidária nascida menos de ideias homogêneas que de interesses políticos de curto prazo.

Depois de rejeitar o programa do PT que havia sido aprovado em março, e de ter anunciado que apresentaria ainda o seu programa para ser mesclado ao do parceiro de empreitada, o PMDB viu-se diante da tentativa de um fato consumado: com a rubrica da candidata Dilma e do presidente do PT, José Eduardo Dutra, foi registrado no TSE o programa esquerdista petista como sendo a base oficial de um futuro governo Dilma.

A insistência em viabilizar teses que fragilizam a propriedade privada em benefício das invasões, ou o controle social da mídia em prejuízo da liberdade de expressão, não é surpreendente, nem é possível aceitar-se a desculpa oficial de Dilma Rousseff e do PT de que houve apenas um engano burocrático que gerou o registro no TSE de uma versão do programa que já estava superada pelas negociações.

Tanto não é verdade que não havia outro programa para substituí-lo. O programa que agora se anuncia que será feito será, na verdade, a primeira versão de uma proposta multipartidária que o PMDB está levando muito a sério, e que o PT tenta até o último momento minimizar.

O programa radical do PT tem origem no Programa Nacional dos Direitos Humanos, que tanta crise já gerou.

Na ocasião em que foi lançado, com o apoio explícito do Gabinete Civil que tinha à frente Dilma Rousseff, o Programa de Direitos Humanos gerou uma crise militar por abrir caminho para uma revisão da Lei de Anistia.

Até que se conseguisse contornar a reação dos militares, com a alteração do texto relacionado à anistia, figuras do alto escalão petista, com o auxílio da burocracia do Gabinete Civil, tentaram dar o fato como consumado mandando publicar no Diário Oficial o texto contestado.

A manobra foi abortada com a colaboração do Ministro da Defesa Nelson Jobim, que levou ao presidente Lula a real gravidade do assunto.

Portanto, não é de se espantar que vários assuntos rejeitados naquele Programa montado pela ala esquerdista do governo, tenham reaparecido depois no programa oficial do PT que quase foi transformado no programa oficial de um eventual governo Dilma Rousseff.

Esse episódio demonstra a influência que o PT terá sobre um governo presidido por Dilma Rousseff, não apenas por pressão política, mas também por proximidades ideológicas.

Mas demonstra, sobretudo, a dificuldade que o PMDB terá para exercer o papel moderador que pretende ter nessa coligação.

A relação do PMDB com o PT vem evoluindo desde o início do governo Lula, de um veto total à sua participação no governo a uma participação ampliada na máquina pública.
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