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20 anos sem muro

Sidney Borges
Foram intensas as comemorações dos 20 anos da queda do Muro de Berlim na Alemanha. O canal de TV Deutsche Welle mostrou os festejos e apresentou documentários sobre a história do muro desde que foi erguido em 1961.

Estive em Berlim em 2000. Apesar dos mais de 10 anos da queda, senti a diferença entre os dois lados do muro. Com um pouco de imaginação coloquei-me na pele dos moradores do setor socialista. Se comparada com as periferias das cidades brasileiras, Berlim Oriental era um paraíso. Não faltava nada, embora não houvesse consumo em excesso. Havia trabalho, moradia, escolas, atendimento médico e aposentadoria garantida para todos. Situação que países como o Brasil estão longe alcançar. Por que então foi erguido um muro de 900 km envolvendo a cidade?

A resposta exige que voltemos no tempo. No final da guerra, em 1945, a Europa estava arrasada. Os Estados Unidos e a União Soviética herdaram depojos dos antigos senhores do mundo e traçaram uma linha divisória chamada Cortina de Ferro. Modo de produção capitalista e economia controlada pelo estado começaram a se confrontar.

Durante anos a diferença não foi sentida, mas a partir de 1960 detalhes, ou melhor, um detalhe começou a pesar na balança.

A Alemanha Oriental tornou-se o país mais desenvolvido do mundo comunista, com padrão de vida considerado alto em relação a Tchecoslováquia, Hungria, e Polônia. A fronteira artificial entre as alemanhas separou famílias, mas estas continuaram mantendo contato e padrões de vida começaram a ser comparados.

Vinte anos depois de terminado o conflito alemães ocidentais e japoneses eram os povos que mais viajavam. Onde quer que alguém fosse encontraria hordas de sorridentes nipônicos e suas câmeras que a tudo registravam. Ao lado, observando, casais de alemães sorriam. Dizem que viajar e comer são as melhores coisas da vida.

Do lado Oriental o máximo permitido era visitar Praga ou passar uma semana no Mar Negro. O ser humano quer mais do que comida, quer diversão e arte.

Os alemães do lado comunista faziam perguntas de difícil resposta. Meu primo foi à Itália. Também quero ir. Por que não permitem?

A pressão por liberdade cresceu. Os russos não eram bons de conversa, pelo menos os comunistas russos não. Enviaram tanques à Hungria em 1956 e à Thecoslováquia em 1968. Viajar é fraqueza da burguesia decadente diziam os idiotas da objetividade dos manuais. Os poderosos do Politburo viajavam. Um dos lugares preferidos era a Disneylândia, onde Kruschev fez questão de mostrar que capitalistas enganavam criancinhas. Dentro do Mickey há uma pessoa, disse o poderoso governante vermelho.

O Muro de Berlim transformou o "paraíso berlinense" em imenso campo de concentração. O desespero tomou conta, famílias deixavam tudo e partiam em balões, barcos, ultra leves. Arriscavam a vida pela liberdade. Muitos morreram, outros foram presos, mas o ideal permaneceu.

Um dia não foi mais possível conter a pressão. O muro caiu. É preciso que fique claro que o que o derrubou foi falta de liberdade. O povo não se importa se o patrão é um milionário ou o estado. As pessoas querem trabalhar, juntar um dinheirinho e viajar nas férias. E comprar bugigangas que ficarão esquecidas em gavetas. É pouco, mas é tudo. Só vivemos uma vez. A falta de liberdade foi o detalhe que matou o comunismo.

No Brasil ainda há quem acredite em socialismo nos moldes soviéticos, mera quimera. Tão distante quanto galáxias a 4 bilhões de anos-luz. O Estado pode até aumentar a presença na economia, mas certamente se houver cerceamento de liberdade a sociedade dirá, parodiando o ex-comunista José Dirceu:

- Repilo!

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