Coluna do Mirisola

Escritor entregue na bandeja

"Quantas vezes não me imaginei servido num banquete para saciar a volúpia de meia dúzia de fêmeas lúbricas e famintas"

Marcelo Mirisola*

Faz quase um mês que a Samantha Abreu me convidou para ser o "Homem de domingo" no blogue que ela e suas amigas, as Meninas de Falópios, mantêm neste sítio: www.versosdefalopio.blogspot.com. Fiquei todo pimpão (sentimento típico de um tiozinho passado nos anos) e aceitei o convite de imediato. Gostei muito do que escrevi. E agora, aproveitando a aparente calmaria no Morro dos Macacos, a entressafra de escândalos no Senado e as desgastadas coxas da Geisy da Uniesquina (gostei disso, Márcia) e, pegando carona numa infinidade de pequenos e/ou colossais factóides, incluídos o filho bastardo de FHC, o desmatamento na Amazônia e o derretimento das calotas polares no topo da lista, seguidos por Dilma versus Marina mais os apagões e os viadutos que desabaram e os que desabarão até as próximas eleições, aproveito o embalo (porque não é só de notícia ruim que vive o pessimista) para folgar pelos últimos e prolongados gemidos da boate Help - valeu, Sérgio Cabral - e pelo fato de que o mundo e o meu umbigo às vezes são realmente surpreendentes, apesar dos pesares. Porque é sabido que de hora em hora Deus piora. Vejam vocês, enquanto os neo-otários continuam enchendo o rabo dos pastores de dinheiro e novos animais pastam na fazenda do bispo Edir, no entreato da peleja, caros leitores e leitoras, a máquina do mundo continua produzindo seus gases. Hosana nas alturas! Às vezes, tais gases podem ser mais respiráveis do que os peidos e bananas que envio para todo o resto. Isso é raro. O sumido Brecão chamaria o fenômeno de final da picada. Um poço cujo fundo parece que não acaba nem na terceira divisão do Brasileirão, não acaba nunca, jamais! Nem na Uniesquina! Nem depois de o Mickael Jackson ter virado purpurina, daí que, aproveitando o ensejo – uma vez que, confesso, não tenho assunto –, tomo a liberdade e peço licença às Meninas de Falópios para republicar meu depoimento como "Homem de domingo", agora na quarta-feira mesmo, aqui no Congresso em Foco.

Eu sei que é um baita lugar-comum. Quase uma receita da Ana Maria Braga, mas que se dane.

Além da Samantha Abreu, as meninas de falópios são Juliana Hollanda, Clara Arôxa, Lais Mouriê, Janaina Lisboa e Patrícia Lage. Seis vampiras. Uma para cada dia da semana. Ou todas numa só noite. Quantas vezes não me imaginei servido num banquete para saciar a volúpia de meia dúzia de fêmeas lúbricas e famintas. Eu lá, em decúbito dorsal, sobre uma larga mesa de sucupira, feito um porco – com direito a maçã na boca e alface debaixo do sovaco. Pururuca, safado.

Tem um filme, cujo nome agora me falta (preguiça de ir ao Google), algo parecido com o cozinheiro, o ladrão e a mulher dele, que quase conseguiu realizar esse meu fetichezinho caseiro. No filme, o amante da mulher do cozinheiro é servido assado. Acho que é isso. A pica do cara, caída pro lado esquerdo, é cortada como se fosse um pedaço de paio – e, assim, o cadáver é servido numa cerimônia que, embora muito sensual, beira a indiferença. À clef, digamos.

Se não me engano, o diretor é Peter Greenaway. Me recordo de uma câmera que se desloca sobre divisórias. Como se o cozimento e o posterior esquartejamento do amante fosse obra deliberada pelas cores fortes, como se não fosse um filme nem tampouco fizesse parte de um jantar, mas de um quadro de Van Gogh sem os amarelos: apenas com os rasgos de fúria e a demência sugerida pelo homem que furou o céu dos cafés de Arles no anonimato. Como se Greenaway, depois do sacrifício de Van Gogh, dissesse: tem arte aqui no meu açougue.

A propósito. Cláudio Assis, diretor de Amarelo manga, experimentou esse defunto – e seria um pleonasmo se eu dissesse que ele usou e abusou dos amarelos que Greenaway jogou na lata do lixo.

Mas eu não queria ser assado. Se não fosse inviável porque... até onde eu saiba... não se faz sushi com carne de porco, eu queria ser servido in natura.

Num domingão.

Não sei se morto ou vivo, ainda não resolvi. Mas, diferentemente do defunto de Greenaway, de pau duro. Porque isso aqui é uma declaração de amor. Para vocês, Meninas de Falópios, se esbaldarem (e agora para o deleite das leitoras, de preferência, leitoras do Congresso em Foco).

Eis-me aqui, pois. Um homem servido na bandeja. Não obstante o lugar-comum, tenho dois pedidos a fazer: usem batom vermelho e sejam um pouco lésbicas.

Sou o porco caralhudo do vosso banquete. Só me resta agradecê-las, e dizer: meu sonho foi realizado; sirvam-se, lambuzem-se, bon appétit. E não briguem, minhas queridas canibais. Tem paio para todas. Se bobear, vai ter mulher que vai levar marmita pra casa. Com amor, arte e caralho duro.

Marcelo Mirisola.

PS 1: Não quis escrever nada sobre o caso da bunda da garota da Uniban porque desconfiei (com exceção da Marcia Denser) da massa de bundões que se manifestaram a respeito. Eis aqui um texto, do escritor Nilo Oliveira, para se pensar a respeito: http://www.decostasprumar.blogspot.com/PS 2: O Memórias da Sauna Finlandesa deve sair este ano mesmo. Tá no forno.

*Considerado uma das grandes relevações da literatura brasileira dos anos 1990, formou-se em Direito, mas jamais exerceu a profissão. É conhecido pelo estilo inovador e pela ousadia, e em muitos casos virulência, com que se insurge contra o status quo e as panelinhas do mundo literário. É autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô e O azul do filho morto (os três pela Editora 34) e Joana a contragosto (Record), entre outros.


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