Fábulas tupiniquins

Caetano, Lula, banqueiros e o escambáu...

Sidney Borges
Sai de casa para a tradicional caminhada matinal. Encontrei minha ex-faxineira. Mudou de profissão. É cabeleireira. Comprou uma moto com a ajuda do governo, abriu um salão de beleza e melhorou de vida. Fiquei feliz por ela, é empreendedora e tem sorte de ter nascido no Brasil, país capitalista que permite mobilidade social. Espero que enriqueça e convide o ex-patrão para festas regadas a champanhe de primeira. É bom ter amigos ricos. E generosos.

Continuei caminhado. Encontrei outro amigo, viver em cidade pequena é assim, tropeçamos em amigos. Fui convidado a visitar o Saco da Ribeira. Enquanto o amigo tratava de negócios fiquei perambulando pelo pier. Um iate dominava a visão, branco, enorme, majestoso. Ao me ver em contemplação extasiada um marinheiro, amigo de longa data, disse que o dono é banqueiro. Com jeitão de quem não quer nada cheguei perto. No deck duas louras com biquinis de onça passavam bronzeador nas costas do ricaço. Do salão emanava o som de Caetano Veloso: "mi cocodrilo verde".

Sol forte, uma sombra, por favor, uma sombra. E se possível água fresca. Nem falo de rede e da morena pro cafuné. Entrei em um bar, pedi cocazero, um de meus três vícios. Os outros são paçoquinha e uva passa. Sentei-me e fiquei matutando sobre a vida. Parece que vivemos no paraíso. Estão todos satisfeitos no Brasil varonil. Pobres melhoram de vida e deixam de ser pobres. De acordo com as estatísticas são classe média. Ricos continuam enriquecendo como nunca d'antes nestes quartéis que não são de Abrantes. Caetano Veloso canta cada dia melhor e é chamado a opinar sobre tudo, de antropologia a entomologia, passando por economia.

O progresso que assola esta nação abençoada por Deus e bonita por natureza é tamanho que chegou aos assaltantes. Ontem um "comando de desapropriação" atacou carros fortes em plena rodovia Anhangüera, parando o trânsito e levando 5 milhões. Usaram armas moderníssimas. Canhões com mira laser e acesso à internet no celular acoplado. Morreu um cidadão que teve o azar de estar em lugar errado em hora errada. O relato dos jornais parece filme de Hollywood. O mundo se curva à genialidade.

Espero sinceramente que a bonança perdure. Atingir o desenvolvimento foi mais fácil do que eu pensava. Americanos, ingleses, franceses, alemães e japoneses enfrentaram guerras, trabalharam duro, investiram milhões em educação, criaram tecnologias e não chegaram lá. Estão em crise enquanto nós tivemos apenas uma marolinha. Definitivamente Deus é brasileiro. Dizem que barbudo.

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