Coluna da Segunda-feira

IDEB – Sem pais não há avanços

Rui Grilo
Há alguns anos, em uma reunião de uma escola da zona Sul de São Paulo, foi discutida a situação de uma aluna que apresentava os trabalhos sempre sujos; a própria aluna aparecia com manchas de carvão e com mau cheiro. Os professores não sabiam o que fazer porque os pais não compareciam à escola. Pelo endereço constatei que morava próximo a minha casa e me ofereci para visitar a família e verificar o porquê daquela situação. Fiquei muito chocado com a extrema pobreza e as condições da residência. É difícil pensar que em plena capital do estado mais rico do Brasil ainda há gente que usa fogão de lenha. Não havia divisão entre o lugar de dormir e o lugar de comer e de fazer os deveres escolares. As paredes eram pretas de picumãs. A partir dessa visita, o olhar dos professores mudou em relação a ela.

Então, o conhecimento do lugar em que o aluno mora e de sua família contribui para o desenvolvimento de ações mais adequadas no processo educacional, criando laços de afetividade entre professor, aluno e sua família.

Em Boston está sendo desenvolvida uma experiência no sentido de garantir maior participação dos pais na escola. Para isso, um professor é designado para fazer uma visita aos pais, pela qual recebe sessenta dólares por visita. Este programa está sendo acompanhado pelo programa de pós-graduação da Faculdade de Educação de Harvard, que é responsável pela formação desses professores.

Experiência semelhante também está sendo desenvolvida em Embu, na grande São Paulo, com apoio da AMCHAM – Câmara Americana de Comércio, que garante o pagamento de horas suplementares aos professores, com resultados bastante positivos na elevação dos resultados de desempenho dos alunos. Essa experiência vem sendo bastante divulgada e a cidade de Embu tem recebido visitantes e pesquisadores de diferentes lugares do mundo.

Consciente da importância da participação dos pais no processo educacional, o MEC, em parceria com várias denominações religiosas, instituições, entre as quais a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, e empresas como o Bradesco, Caixa Econômica Federal, Coca-Cola, Natura, Votorantim, Wal-Mart vem desenvolvendo o Plano de Mobilização em Defesa da Educação, cujo objetivo é desenvolver a consciência da importância da participação dos pais para o bom desempenho educacional dos filhos.

No nosso município, a equipe de voluntários de Ubatuba responsável pela mobilização do Litoral Norte recebeu a preciosa colaboração da ACIU – Associação Comercial de Ubatuba, que garantiu a impressão dos cartazes para a divulgação do Plano.

O material básico do Plano, a cartilha “Acompanhem a vida escolar dos seus filhos” foi ilustrada pelo Ziraldo, grande artista mineiro, autor do “Menino Maluquinho”. Também tem recebido a colaboração de vários artistas que gravaram mensagens que estão sendo veiculadas pela tv e pelo rádio. Todo material é de livre reprodução e pode ser encontrado no site http://familiaeducadora.blogspot.com/

Ensino Fundamental I - Ensino Fundamental II - Ensino Médio
BRASIL - 4,2 - 3,8 - 3,5
SUDESTE - 4,8 - 4,1 - 3,7
SAO PAULO - 4,7 - 4,0 - 3,4
UBATUBA - 4,3 - 4,5 - --

Fonte: MEC/INEP

Para orientar o diagnóstico e as discussões, o MEC disponibilizou o dados do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Comparando os dados do IDEB de 2007, acima podemos perceber que no ensino fundamental I (até a quarta série e que é atendido pelo município) Ubatuba está 0,1 acima do índice nacional mas está 0,5 abaixo do índice estadual. No ensino fundamental II (da quinta a oitava séries), o índice do Estado de São Paulo está 0,2 a mais que o nacional; e Ubatuba está 0,7 acima do nacional. Mas é bom lembrar que quase todos os alunos do fundamental II são atendidos pelo governo estadual. E não temos os dados do município no que se refere ao ensino médio.

Mantendo esses indicadores não há condição de garantir a sustentabilidade do município e a melhoria das condições de vida. Para um município que quer ter no turismo o seu vetor de progresso econômico é necessário investir em recursos humanos garantindo a melhoria da educação. Um dos passos do Plano de Mobilização é a criação de um grupo de mobilização que reflita sobre esses dados, identifique suas causas e aponte soluções viáveis. Se o executivo e o legislativo não assumirem essa convocação, cabe a nós, cidadãos, nos organizarmos para garantir nossos direitos.

Para finalizar, é bom lembrar o Art. 205 da Constituição: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa...”
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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