Artigo

O Fim da História

Murillo de Aragão (original aqui)
As eleições de 2014 devem apresentar um quadro de absoluta ausência de debate ideológico.

A razão é simples: não existe diferença significativa na forma dos candidatos olharem o mundo.

Dilma, Serra, Marina e Ciro são políticos de esquerda que apreciam o poder de intervenção na economia e defendem um estado forte e regulador, além de terem ambições protagonistas no âmbito da economia.

O que isso significa? A resposta é simples: a inexistência de um debate ideológico sobre o que queremos para o Brasil.

Todos, sem exceção, defendem uma coleção de posturas bem intencionadas, escondem qualquer vestígio de atitudes eventualmente liberais e acreditam que o estado é o grande propulsor da economia.

Ledo engano. Não é o estado que deve ser o propulsor da economia e sim o bom governo.

Uma prova da ausência de debate pode ser constatada na tramitação dos projetos do pré-sal no Congresso.


Governo e oposição não discutem o modelo. Debatem a destinação das verbas que resultarão da exploração do petróleo.

Apenas os Democratas, que são uma espécie de “social-democratas” de centro-direita, ensaiaram um questionamento sobre a participação do investimento privado no projeto. Não irão longe. Até mesmo por falta de jeito.

A crise de 2008 apenas reforçou a crença de que nosso modelo é o “ideal”. Até mesmo pelo simples fato de que economias neoliberais, como a dos Estados Unidos, adotaram receituário intervencionista para tirar o país da crise.

Assim, o Brasil estaria antecipadamente certo em manter-se intervencionista quando ficou evidenciado que o receituário neoliberal teria fracassado. Não é bem assim. Mas muitos acreditam.

Outra prova de que o receituário caminha para a mesmice está na questão das privatizações. O apreço pelas privatizações foi um surto passageiro.

Já no segundo governo de FHC, o ímpeto diminuiu e, como se sabe, setores do PSDB e dos Democratas trabalharam para impedir a privatização de Furnas.

A privatização da Cemig, que tinha sido feita de forma disfarçada e juridicamente questionável, morreu.

Tudo voltou a ser como antes. Em condições de sucesso econômico, jamais uma empresa como a Vale teria sido privatizada, nem qualquer das empresas de telecomunicações.

Outra prova do receituário comum está na Rede de Proteção Social do governo FHC, ampliada no governo Lula.

Lula começou mal com o Fome Zero e está terminando espetacularmente bem com o Bolsa Família. A mesma política.

Hoje em dia, muitos atores políticos reconhecem que o boom econômico que vivemos é fruto de políticas públicas de gasto elevado e dos programas assistencialistas.

Não são muitos os que reconhecem que o grande salto nas políticas sociais foi dado a partir da estabilidade econômica e do controle da inflação. Mais do que os programas sociais, o que assegurou a reeleição de Lula e o seu espetacular sucesso no segundo mandato, foi a gestão econômica.

Para o Brasil, a ausência de um debate de ideias e de modelos é ruim, já que cria a sensação de que a historia chegou ao seu fim e que temos apenas que aplicar nosso modelo de forma mais eficiente.

Não deveria ser assim. E, no futuro, não será. Não me perguntem quando, pois acho que nem Deus sabe ao certo.

O Brasil vai bem e deverá crescer nos próximos anos inaugurando uma nova etapa do “milagre brasileiro”.

Seremos um país melhor, mas não seremos tão bons quanto podemos pela ausência de debate qualificado, pelo bom mo cismo de sempre e pelo caráter pedestre das reflexões sobre a conjuntura observadas no dia-a-dia.

Murillo de Aragão é cientista político


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