Brasil
Sobre a crise
Sidney Borges
A crise de 29 marcou a vida brasileira. Minha avó me contou que os fazendeiros de café andavam feito loucos nas imediações da avenida Paulista. Espetáculo estranho. Homens de fraque e longas barbas exibindo cabeleiras desgrenhadas, olhos esgazeados e baba escorrendo dos cantos das bocas. No chão cartolas amassadas. Como contraponto o vendedor da "Fanfulla" apregoando o semanário em italiano. A crise de 29 deixou marcas comportamentais na massa urbana, na época massinha pois a maioria dos brasileiros estava no campo. Diferentemente dos americanos, que vivem endividados e aplicam na bolsa, o brasileiro tem por hábito a temperança. Quando sobra algum dinheirinho vai pra caderneta de poupança, garantida pelo Lula. Se alguém vai ter problemas com a crise certamente serão os grandes empresários. Apostaram na corrente da felicidade e não têm como pagar a conta. Para que não sofram existe o governo. Compromissos assumidos nas campanhas serão honrados. Quem doa ao rei recebe de volta. Com juros. Hoje há mais brasileiros nas cidades do que no campo. O carro chefe da economia ainda é o setor automobilístico. Pelos sinais dos astros está acesa a luz amarela. Sem vender carros não há como pagar salários. Demissões à vista. É o prenúncio da verdadeira crise. Desemprego. Morte civil. Em havendo trabalho o povo continua como sempre, ganhando pouco, gastando pouco, pagando o dízimo para garantir o terreninho no céu e torcendo pelo time do coração aos domingos. Sem faltar feijão, farinha, carne seca e a "marvada", continuaremos contemplando o horizonte. Um dia D. Sebastião voltará montado no corcel branco. Corcel 1974, velho, enferrujado, queimando óleo, mas ainda transportando a esperança nacional.
Sidney Borges
A crise de 29 marcou a vida brasileira. Minha avó me contou que os fazendeiros de café andavam feito loucos nas imediações da avenida Paulista. Espetáculo estranho. Homens de fraque e longas barbas exibindo cabeleiras desgrenhadas, olhos esgazeados e baba escorrendo dos cantos das bocas. No chão cartolas amassadas. Como contraponto o vendedor da "Fanfulla" apregoando o semanário em italiano. A crise de 29 deixou marcas comportamentais na massa urbana, na época massinha pois a maioria dos brasileiros estava no campo. Diferentemente dos americanos, que vivem endividados e aplicam na bolsa, o brasileiro tem por hábito a temperança. Quando sobra algum dinheirinho vai pra caderneta de poupança, garantida pelo Lula. Se alguém vai ter problemas com a crise certamente serão os grandes empresários. Apostaram na corrente da felicidade e não têm como pagar a conta. Para que não sofram existe o governo. Compromissos assumidos nas campanhas serão honrados. Quem doa ao rei recebe de volta. Com juros. Hoje há mais brasileiros nas cidades do que no campo. O carro chefe da economia ainda é o setor automobilístico. Pelos sinais dos astros está acesa a luz amarela. Sem vender carros não há como pagar salários. Demissões à vista. É o prenúncio da verdadeira crise. Desemprego. Morte civil. Em havendo trabalho o povo continua como sempre, ganhando pouco, gastando pouco, pagando o dízimo para garantir o terreninho no céu e torcendo pelo time do coração aos domingos. Sem faltar feijão, farinha, carne seca e a "marvada", continuaremos contemplando o horizonte. Um dia D. Sebastião voltará montado no corcel branco. Corcel 1974, velho, enferrujado, queimando óleo, mas ainda transportando a esperança nacional.
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