Opinião

Como diria Creonte

Eugênio Bucci
Ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, admoestou os que criticaram o empréstimo de R$ 2 bilhões que a Caixa Econômica Federal concedeu à Petrobrás. O dinheiro, conforme disse a ministra, serviu para o pagamento de Imposto de Renda, numa operação "normal". Quanto a isso, ela até pode ter razão. Embora não seja corriqueiro, o expediente não constitui propriamente um escândalo. Ao menos à primeira vista. Como demonstrou o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna dominical, publicada no Globo e na Folha de S.Paulo, o montante não é nenhuma fortuna diante do porte da Petrobrás: "Se uma empresa que tem R$ 11 bilhões em caixa e gira em torno de R$ 4 bilhões por mês decide fazer um papagaio de R$ 2 bilhões, nada há de estranho nisso. Grosseiramente, é como se um cidadão que tem R$ 5.000 aplicados e ganha R$ 2.000 mensais resolve pedir ao banco um empréstimo de R$ 1.000." Diante de uma necessidade de caixa, a estatal buscou recursos no mercado a juros que lhe pareceram razoáveis. Até aí, portanto, tudo bem.


O que chamou a atenção na fala da ministra, no entanto, não é o apelo que ela fez à serenidade e à sensatez - o que, de resto, seria o seu melhor papel -, mas o tom de advertência com que ela se dirigiu aos críticos - e, aí, em lugar de rebater os argumentos de modo didático e tranqüilizador, passou a desqualificar os que divergem. Dilma Rousseff passou um pito em quem vê problemas onde ela só vê solução e afirmou que a controvérsia em torno do episódio é "um caso estarrecedor".

"Não é correto expor a Petrobrás a uma situação dessas", ela argumentou, destacando o clima de tensão que domina o mercado financeiro no momento. "Não é possível levantar uma coisa dessas de que a Petrobrás está quebrando." Por isso, segundo a chefe da Casa Civil, criticar a estatal "é dar um tiro no próprio pé".

A expressão "tiro no pé" é bem reveladora. No pé de quem? Elementar: no pé do Brasil. De acordo com a lógica ministerial, no tempo de crise financeira em que nos encontramos, a discordância se converte numa artilharia contra nós mesmos. A conduta ideal, enfim, seria não falar nada, não criticar nada, não "levantar a lebre" - para usar aqui outra expressão da mesma família. Se a operação financeira foi "normal", ainda que surpreendente, o "normal" diante dela seria apenas o silêncio.
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