Crise

Cof, cof, cof.

Diogo Mainardi
Benjamin Steinbruch, dono da CSN, publicou na Folha de S.Paulo um artigo intitulado "Expectadores da recessão". Assim mesmo: "expectadores" com "xis". Tenho expectorado continuamente desde setembro, quando meu menorzinho me passou uma tosse. Posso não entender nada de recessão, mas me considero um especialista em matéria de expectoração. Por isso, o artigo de Benjamin Steinbruch me fez refletir profundamente. Dá para expectorar uma recessão? Interpretei da seguinte maneira: cada pneumococo é um keynesiano em potencial, com seus estratagemas para contaminar os organismos do estado e sufocar as vias respiratórias da economia. É isso?

Se entendi direito, Benjamin Steinbruch pertence ao partido dos pneumococos keynesianos. Cito um trecho de seu artigo: "Até a semana passada, pacotes para estimular investimentos e consumo num total de 3 trilhões de dólares já haviam sido anunciados por diferentes governos. No Brasil, o caminho é o mesmo. Uma vez que não temos por aqui nenhum problema de solidez no sistema financeiro, a tarefa é direcionar recursos a empreendedores públicos ou privados que efetivamente tenham coragem e competência para gastá-los de forma produtiva". Cof, cof, cof. Considerando todos os recursos que, nos últimos anos, o BNDES direcionou à CSN, como os 900 milhões de reais para a Nova Transnordestina ou os 300 milhões de reais para o Porto de Sepetiba, Benjamin Steinbruch só pode ser um desses corajosos e competentes empreendedores privados que, segundo ele próprio, teriam de ser contemplados com ainda mais dinheiro público.

Pergunte ao senador petista Aloizio Mercadante o que ele pensa sobre o assunto. Aposto que ele concorda. Achei que os keynesianos fossem mais obsoletos do que as escarradeiras dos tuberculosos, para continuar com a analogia pulmonar. Mas me enganei. Eles voltaram. E em sua forma mais agressiva: a dos keynesianos em causa própria, como o presidente da GM, nos Estados Unidos, ou o presidente da CSN, no Brasil. Benjamin Steinbruch, o Hans Castorp da siderurgia nacional, internado em seu sanatório de verbas do BNDES – sim, Thomas Mann, A Montanha Mágica –, conclui seu artigo recomendando que os recursos públicos "sejam realmente gastos e não fiquem debaixo dos colchões de apavorados expectadores da recessão".

Como eu sou apenas um espectador comum – um espectador com "esse" –, aconselho o governo a fazer o contrário: é melhor ficar sentado na platéia, de mãos dadas com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e assistir aos desdobramentos do espetáculo, deixando o dinheiro prudentemente debaixo do colchão. E se um keynesiano em causa própria expectorar em sua orelha, na poltrona de trás, afaste-o imediatamente: ele é contagioso. (Trem Azul)

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