Tabuleiro

O xadrez da política

Nos anos de chumbo da ditadura, que não eram tão de chumbo, apenas aborrecidos, o xadrez mundial rendeu-se ao talento de um americano, depois de quarenta e cinco anos de supremacia soviética. Os russos dominavam os tabuleiros desde 1927, ano em que Alekhine derrotou o cubano Capablanca. Em 1972 torciamos por Spassky campeão há três anos. Antes dele outro russo, Petrossian, reinara por seis anos, sucedendo outro russo que por sua vez... O xadrez provava a supremacia do homem comunista, o regime ainda estava em construção, um dia todos teriam Porsches como os amigos de Janis Joplin, que implorou a Deus por uma Mercedes Benz e no céu ganhou um Lada núvem, penitência pelas drogas. Jamais entenderei os homens de marketing da União Soviética, se tivessem mostrado ao mundo as tenistas, certamente muitos corações e mentes teriam sido conquistados. Enfim, o decadente capitalismo fazia carros melhores, tinha mulheres mais bonitas à vista e deixava as pessoas irem de um lado para outro sem perguntas, mas o comunismo tinha melhores cérebros. Spassky levou um baile do esquisito Fischer, campeão americano e materialista insensivel. Só pensava em carros e mansões. Fischer colocou sorrisos nas caras da direita brasileira e um ponto de interrogação nas cabeças dos amantes do xadrez. Seria ele imbativel? Três anos depois, por pura esquisitice, perdeu o título no tapetão para Karpov, o que devolveu o orgulho aos russos e a esperança a nós, estudantes. Naquela época a UNE era contra o governo, contra os impostos, contra as maracutaias, esquerdista assumida. Karpov sempre foi comunista roxo, trincava de ortodoxia. Acabou destronado por um dissidente, Kasparov, que ascendeu ao topo na era Gorbatchev e até hoje figura entre os maiores. Há quem diga que ele paira acima dos demais, eu gostaria de vê-lo contra Fischer, o que é quase impossivel. O americano estava a ponto de ser preso nos Estados Unidos, fugiu e adotou a nacionalidade islandesa, vivendo hoje em Reikjavik. (Sidney Borges)

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