Editorial

CPMF
Porque sou a favor


Quando o imposto do cheque foi criado apoiei logo de cara. Não por razões humanitárias, não por solidariedade cristã, por puro egoísmo, a CPMF, dizia o ministro Jatene, iria resolver os problemas da Saúde e com isso eu iria economizar uma grana preta.

Não precisaria mais pagar plano médico, que como sabem os leitores, encarece à medida que envelhecemos, e eu, absolutamente contra a vontade e sob protestos, estou envelhecendo.

Finalmente eu teria um carro off-road. É isso mesmo, o custo de um plano médico para um casal de meia-idade equivale à mensalidade de um fora de estrada. Digo mais, importado. A grana que vai mensalmente pelo ralo dá perfeitamente para sustentar com dignidade uma família. Milhares de famílias brasileiras vivem com um terço do dinheiro que sou obrigado a jogar fora. Enfim, sou brasileiro e como tal não desisto nunca.

O doutor Adib Jatene é um homem sério, um cientista, um estudioso honesto e sincero. Confiei nele, se dizia que a CPMF era a salvação da lavoura, então a colheita estava garantida.

Sonhando com a Nissan Pathfinder, tomei contato com a realidade ao ver na televisão o pronunciamento de Lula sobre o imposto. Despenteado, com os olhos esbugalhados, baba escorrendo do canto da boca e respiração ofegante, Luiz Inácio apontou o indicador para fora da tela e disse que o povo brasileiro estava sendo roubado. Fiquei pasmado. Sendo roubado?

Adepto do capitalismo, detesto perder dinheiro. Prestei atenção e tive de concordar com Lula. Dinheiro para a Saúde existia e muito, o que emperrava a engrenagem era falta de gerenciamento administrativo, incompetência tucana. Com o PT no poder isso iria mudar, o povo brasileiro seria finalmente respeitado. A primeira vez em quinhentos anos!

Fiquei em dúvida, mas quando o elegante príncipe dos sociólogos, o presidente da República, sua majestade gloriosa, o incomparável FHC, afirmou que era apenas questão de acertar contas antigas, erros do passado e que logo a CPMF seria desativada, mais uma vez tive certeza de estar apoiando um benefício que me daria lucro. Como todo porco capitalista, sou egoísta, penso em meu bolso primeiro.

Pausa para os comerciais (um minuto só, paciência meu!)

A CPMF está na boca da caçapa. Vai ser votada a qualquer instante. Meu coração se enche de júbilo. Neste momento glorioso da vida brasileira Lula está ao meu lado. É confortável ter um poderoso ao lado. Poderoso e elegante. Lula veste ternos magníficos, tem os cabelos e a barba aparados com apuro, pela aparência ninguém diria que é um simples torneiro-mecânico.

Lula é o meu ídolo. Quando estava na oposição fazia bravatas o que em tradução livre significa que dizia coisas em que não acreditava. Eu sempre desconfiei que Lula nunca foi socialista, ele sempre será um simples torneiro-mecânico. Ontem nosso querido torneiro-mecânico afirmou ser uma metamorfose ambulante, homenageando Raulzito. É por isso que me orgulho do Brasil, temos um presidente do povo, que gosta do que o povo gosta e o povo brasileiro é bom e generoso. E somos penta e isso é nosso e ninguém tira, nem os tucanos privatizantes, nem a direita golpista.

Viva Lula, nosso guia, aquele que ilumina nosso caminho. Vai me ajudar a realizar um sonho. Com a CPMF vou rasgar o carnê do plano médico e comprar a tão desejada Nissan Pathfinder, ainda que fabricada em 1992.

Sidney Borges

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu