Ubatuba em foco

Saúde bucal - Onde Ubatuba precisa melhorar

Maurício Moromizato
Em 25 de Outubro comemorou-se o dia do Cirurgião-Dentista, profissional de nível superior, da área médica, responsável pela promoção da saúde bucal, pela prevenção das doenças que acometem o sistema mastigatório, tais como cárie, inflamação e infecção gengival, câncer bucal, entre outras, e pelo tratamento e recuperação de tais moléstias. Com o avanço das ciências médicas e sua divulgação para a população, sabe-se hoje que não há saúde sem saúde bucal, e que o dito “saúde começa pela boca” além de verdadeiro aponta para um objetivo que todo cidadão deve ter para si e que as autoridades devem ter para a saúde de sua população.
Sabe-se hoje que a saúde bucal interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas. O sistema mastigatório é parte do aparelho digestivo, iniciando o processo de aproveitamento dos alimentos ingeridos através do corte, da dilaceração e do esmagamento dos alimentos, bem como do início da digestão propriamente dita com a ação de enzimas contidas na saliva. Porém sua função hoje ultrapassa essa atribuição funcional e chega às questões pessoais e sociais no dia-a-dia de qualquer cidadão.
Questão pessoal porque a saúde bucal perfeita, com dentes bem cuidados, tratados e/ou substituídos, quando necessários, faz considerável diferença na auto-estima de qualquer pessoa. Sabe-se hoje que um dos procedimentos eficazes para ajudar no tratamento de depressão é proporcionar tratamento dentário aos pacientes que dele precisam, pois tal procedimento eleva a auto-estima e ajuda na superação desse terrível problema que é a depressão. Em adolescentes e adultos, a ausência de saúde bucal interfere nas relações afetivas entre as pessoas, pois ausências dentárias, halitoses (mau-hálito), sangramentos gengivais e o aspecto desagradável de dentes cariados diminuem a atração física e pessoal entre as pessoas, interfere no humor e no “jeito” de cada um de nós.
No aspecto social, a ausência de saúde bucal gera exclusão, pois há uma considerável desvantagem estética (e de saúde também) na comparação de pessoas desdentadas e com dentes cariados em relação a quem tem boa aparência e boa saúde bucal. Essa desvantagem aprofunda as diferenças, aumenta o nível da exclusão social e com certeza tem relação direta e indireta com outros problemas sociais de qualquer comunidade. Na disputa por um emprego, por exemplo, quem será contratado, uma pessoa com bom sorriso e dentes saudáveis ou um desdentado ou com dentes de má-aparência?
Aos que tem melhores condições e podem usufruir de assistência odontológica particular, Ubatuba oferece uma ampla rede de assistência, com mais de sessenta profissionais, distribuídos na totalidade das especialidades, podendo-se afirmar que esses pacientes mais afortunados encontram aqui em nossa cidade o que há de melhor em termos de equipamentos e qualificação profissional. Grande número desses profissionais da rede particular faz também sua parte na questão de responsabilidade social, atendendo pacientes carentes gratuitamente em seus consultórios, seja de maneira individual, seja de maneira coletiva, como na rede de voluntários “Dentistas do bem”, recentemente instalada em nosso município.
Nosso (de Ubatuba) grande problema em saúde bucal é na oferta insuficiente de assistência odontológica pela rede pública aos cidadãos que mais necessitam, aumentando assim a exclusão social a que já estão submetidos. Temos mais de 75.000 (setenta e cinco mil) habitantes e apenas 8 (oito) profissionais dentistas prestando assistência odontológica na rede pública. Para efeito regional de comparação, temos menos profissionais que Ilha Bela, que São Sebastião e Caraguatatuba. Ainda comparando, a relação dentista/habitante recomendada pela Organização Municipal de Saúde é de 1/2000 (um dentista para aproximadamente dois mil habitantes). Em Ubatuba esse problema é ainda mais grave devido à falta crônica de materiais, com disponibilização apenas de serviços de urgência e emergência, de tratamentos preventivos insatisfatórios e de tratamentos restauradores restritos a crianças e em número insuficiente. Há fila de espera de mais de quatro mil pessoas inscritas e não se aceita mais inscrições, em nosso centro Odontológico.
O ministério da saúde, baseado em pesquisa nacional da situação de saúde bucal no País, adotou diretrizes nacionais para a saúde bucal, que podem e precisam ser implantadas em Ubatuba. Há incentivo financeiro para tais ações.
Necessitamos implantar equipes de saúde bucal no programa de saúde da família (PSF), onde havia cinco equipes e hoje não temos nenhuma equipe de saúde bucal no PSF (dados do ministério de setembro de 2007). Essas equipes atenderiam de maneira localizada as populações de sua área geográfica, e fariam também o serviço de promoção e prevenção, com palestras e aplicação de flúor em escolas, associações comunitárias, etc. Há condição de implantação imediata de duas equipes na região sul (dois turnos de serviço), no Centro (quatro equipes em dois turnos), no Ipiranguinha (quatro equipes em dois turnos) e na região Norte (duas equipes, em dois turnos), perfazendo um total de doze equipes possíveis e que aumentariam em muito a oferta de serviços e a assistência à população.
Completando essa assistência, temos condições imediatas de implantar um CEO (Centro de Especialidades Odontológicas), também com incentivo financeiro federal, para atender às necessidades de especialidades para os pacientes atendidos nos bairros, com mais seis profissionais trabalhando em dois turnos. Tal CEO seria implantado no atual centro odontológico, ofereceria serviços de tratamentos endodônticos (canal), cirúrgicos, periodontais (gengivas) e protéticos. O atual centro odontológico municipal possui capacidade para pelo menos cinco equipamentos (dois para o PSF central e três para o CEO).
Diante desse quadro descrito e da realidade que pode ser percebida ou pesquisada por qualquer cidadão de Ubatuba, precisamos lutar para verdadeiramente oferecer assistência odontológica à nossa população. É obrigação legal do poder público, é necessidade real de nossa população, notadamente porque nossa principal atividade econômica é o turismo e precisamos ter nossos cidadãos e nossos trabalhadores sorrindo para quem vem nos visitar.
Hás obrigações legais a serem cumpridas. O executivo municipal tem o dever de elaborar um Plano Municipal de Saúde, incluindo nele a assistência odontológica. É chegada a hora de acabar com improvisações e com medidas paliativas também na área da saúde bucal. Há um norte a seguir, dado pelo governo federal e que vem dando resultados. Essa direção é também o desejo de nossa população que aprovou inserção de assistência bucal no PSF, instalação de Centro de Especialidades Odontológicas, disponibilização corrente de materiais para tratamentos (financiamento) e contratação de profissionais por concurso público na “Conferência Municipal de Saúde”.
Como cidadãos, devemos exigir que nossos gestores municipais (prefeito, secretário de saúde e superintendente de atenção especializada) estejam em sincronia com os desejos e necessidades da população, que aproveitem as oportunidades existentes e executem as ações necessárias para melhorar Ubatuba e proporcionarem a chance de um sorriso aos nossos cidadãos.

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