Diferentes, porém iguaizinhos

Petralhas e tucanalhas

Por André Petry em VEJA
"O pior mesmo é que a semelhança entre um caso e outro irrompe naquilo que há de mais repulsivo nos dois esquemas: o desvio de dinheiro público"
Então, são todos iguais? Então, no escuro do poder, petistas viram petralhas e tucanos viram tucanalhas? A pior coisa que pode acontecer para o Brasil é triunfar a noção, cada vez mais disseminada, de que todos os políticos são iguais. Afinal, um país se constrói pela via da política. E a idéia de que todos são iguais, sendo igualmente desonestos e picaretas, não desmoraliza apenas os políticos. Atinge a própria política. E o sentido da política, já dizia Hannah Arendt, é a liberdade. Renunciar à política é, portanto, renunciar à liberdade.
A comparação linear entre o mensalão do PT e o trambique do tucano Eduardo Azeredo em Minas Gerais é incorreta. Não são esquemas iguais. Eles se parecem na forma, mas se distinguem no conteúdo. A semelhança aparece porque, nos dois casos, o operador é o ex-carequinha Marcos Valério, os empréstimos fajutos são feitos junto ao Banco Rural, os repasses clandestinos saem do cofre da SMPB.
O conteúdo, no entanto, é distinto. No caso tucano, pelo que se sabe até agora, é um caixa dois eleitoral. É um crime, mas o crime é esse. No caso petista, o mensalão também teve seu lado de caixa dois eleitoral, mas foi bem mais do que isso. Serviu sobretudo para subornar outro poder, trocando apoio por dinheiro e violando um princípio basilar da democracia. Simbolicamente, os petistas fecharam as portas da Câmara dos Deputados e foram às compras. No bazar das consciências de suas excelências, arremataram as mais baratas, as mais convenientes. É corrupção ativa e passiva. E é, também, um crime de lesa-democracia.
O esquema do PT em Brasília é pior do que o do PSDB em Minas? Talvez seja, sobretudo porque o mensalão tomou a estrutura do PT, com adesão de toda a sua antiga cúpula, mostrando que a roubalheira tinha uma espécie de chancela institucional. No caso tucano, não há indicações de que a pilantragem de Eduardo Azeredo tenha sido organizada e executada pela cúpula nacional do PSDB. É uma diferença de escala. Mas o pior mesmo é que as diferenças entre um caso e outro não vão muito além disso. E as semelhanças irrompem naquilo que há de mais repulsivo nos dois esquemas: o desvio de dinheiro público.
No mensalão do PT, as investigações levantaram a suspeita de que o esquema foi abastecido com dinheiro público desviado do Banco do Brasil, da Eletronorte, dos Correios e do Ministério do Esporte, além da própria Câmara dos Deputados. No caso tucano, o relatório da Polícia Federal aponta indícios bastante sólidos de que o caixa dois de Azeredo foi irrigado com dinheiro público desviado por meio de contratos celebrados por Marcos Valério com o banco mineiro e mais três estatais, dos setores de mineração, energia elétrica e saneamento. Aqui, petistas viram petralhas e tucanos viram tucanalhas. São ladrões. São trombadinhas de impostos. São assaltantes dos cofres públicos.
Os tucanos ainda têm uma chance de marcar a diferença. Em vez de fazer como o PT, que miou fininho diante da roubalheira, o PSDB deve expulsar Azeredo de suas fileiras já. Aliás, deveria ter feito isso há muito tempo. Do contrário, tucanos e petistas ficarão cada vez mais iguais. E vamos todos ficar reduzidos àquela comparação infame:
– Roubei, sim, mas vossa excelência roubou mais.

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