Ubachuva? Onde?

Chove chuva, chove sem parar!

Se o mundo se preocupa com a futura falta de água em nosso planeta. Nós, ubatubenses, não podemos reclamar, pois esse elemento da natureza está em abundância em nossa terra. Alguns gostam, entretanto a maioria se incomoda por ter de ouvir sempre o jargão “ubachuva”. Mas será que sabemos explicar aos conterrâneos e turistas a razão de tanta chuva?
Em entrevista, a adorável e atenciosa doutora Luci Hidalgo Nunes, coordenadora do Laboratório de Estudos Climáticos do Instituto de Geociências e professora da UNICAMP, especialista em mudanças climáticas, eventos atmosféricos extremos e desastres naturais ocasionados por condições climáticas, nos apresenta informações sobre o clima de nossa cidade,
Para quem pensa que Ubatuba é a cidade mais chuvosa do litoral paulista está enganado. A primeirona é a cidade de Bertioga, ou para os engraçadinhos “bertiágua”. Sua média anual de precipitação de chuva é de 4500 mm, enquanto que Ubatuba apresenta aproximadamente 2600 mm o que significa que a cada ano chove o suficiente para encher 26 caixas d’água de 1000 litros em cada metro quadrado de nosso município. Sem dúvida, nossa cidade está entre as 10 cidades mais chuvosas do país. A impressão de que chove tanto é devido as precipitações de chuva serem mais constantes ao longo do ano. Enquanto que em outras cidades 72 % das chuvas se concentra no período primavera-verão.
O fato de nossa cidade ter alta umidade e ser quente (o que significa ter constante energia) propicia o excesso de chuva. Mas devemos lembrar de um fator que contribui enormemente para esse clima, a Serra do Mar. Quem conhece o litoral paulista, observou que a cidade de Ubatuba está muito próxima da Serra do Mar, enquanto que cidades como Santos e São Vicente estão mais distantes. A Serra do Mar é uma barreira, que favorece a grande quantidade de chuva por impedir a distribuição de umidade e frentes de chuva para o interior. Em São Luiz do Paraitinga que é nosso vizinho chove muito menos, pois está atrás da barreira.
Entretanto para que chova não basta ter somente nuvens, é necessário a presença de núcleos de condensação (micropartículas, tais como pólen, microorganismos, sal marinho, etc). Imagine que com o calor do dia o vapor d’água vai se acumulando, o ar quente é mais leve e portanto sobe, o ar frio mais pesado desce. A Serra do Mar impede que esse “sobe e desce do ar” se disperse para o interior, e a Mata Atlântica fornece pólen e microorganismos e o Oceano Atlântico o sal marinho. Essas micropartículas vão para o ar e as gotículas de água, que são levinhas e incapazes de cair, vão se juntando nessas partículas, até que quando várias gotículas se juntam nesses núcleos de condensação, ficam pesados e cai a chuvarada.
Graças a isso é que possuímos a mais exuberante paisagem do litoral paulista. Nossa Mata tem sua biodiversidade tão importante por conta do clima. Aqui podemos observar por todos os cantos bromélias e orquídeas. Além disso, se não chovesse tanto para encher nossos reservatórios de água, a cidade viraria um caos incontrolável durante a temporada de verão, quando a população do município aumenta muito. Contudo, o excesso de chuva, tem ações negativas, pois favorece o escorregamento de encosta e facilita o surgimento de criadouros de mosquito da dengue.
Resta lembrar que convivemos com a chuva e que ela permanecerá nas gerações futuras. Cabe a nós sabermos tirar proveito dela, enxergá-la como algo positivo que contribui para beleza de nosso paraíso, e impedir ações destruidoras do homem. Como diz a professora Luci, “A chuva é a deflagradora (dos fenômenos de escorregamento de encosta e do acúmulo de água), a culpa é do processo de ocupação.”


Camilo de Lellis Santos - Biólogo

Comentários

Fabricio Braga disse…
Legal o texto, muito bom!

Realmente o homem precisa saber aproveitar mais as vantagens da chuva.

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