Editorial

Noite vazia

Hoje é o dia do debate. Por questão profissional sou obrigado a assistir. Vai ser enfadonho, conheço os candidatos há muito tempo, sei exatamente o que esperar deles. Eu gostaria de perguntar ao presidente Lula o que ele pretende fazer para tirar o Brasil da lanterna do crescimento, ou melhor, da zona de rebaixamento. A lanterna pertence ao Haiti, uma espécie de Íbis das nações. Para quem não se recorda, usei uma metáfora a gosto do presidente Lula. O Íbis foi um dia considerado o pior time do Brasil. Perdia todas. Deve estar na vigésima divisão, se é que existe. É para lá que vai a Portuguesa, meu segundo time. Felizmente o Juventus, meu terceiro time continua fazendo bonito. De 1996 para cá o mundo cresceu, menos o Brasil que ficou plantado qual sequóia. Estagnado. Para tirar o atraso precisa crescer sete por cento ao ano. Nem Lula nem Alckmin têm a menor idéia do que fazer para tornar essa meta realidade. Pelo menos nunca mencionaram o tema de forma convincente. Eles dizem que o Brasil precisa crescer. Eu sei, hoje perguntei ao padeiro se o Brasil precisa crescer. Ele disse que sim e perguntou se eu não queria levar uma rosca de coco. Depois fui abastecer o carro e perguntei a mesma coisa à moça do posto. Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça enquanto examinava o nível do óleo. Todo mundo sabe disso, até o meu cachorro sabe. Quando menciono o tema ele late. Quero saber apenas um detalhe. Como fazer para o Brasil crescer? O que vamos assistir hoje à noite será empulhação da grossa. O que deveria ser um embate de idéias será apenas boxe ruim. A democracia brasileira ainda não foi entendida no país. Embora estejamos no ano de 2006, em pleno terceiro milênio, a nação vive e pensa como faziam os camponeses medievais, com todos os mitos e temores destes. O debate será para ungir um rei. No Brasil presidente é rei. E não é um rei qualquer. É um rei mágico que tem a incumbência de mudar a realidade apenas com palavras e gestos. Vou ter uma noite difícil. As promessas e os compromissos que os candidatos farão e assumirão não resultarão em nada de prático. Melhor sentar e esperar o espetáculo do crescimento passar e se possível dele tirar um dos dez milhões de empregos que um dia foram prometidos. Vou continuar esperando, como o meu avó português esperou por Dom Sebastião. É o meu destino, está escrito...

Sidney Borges

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu