Caymmi

Minha versão de um fato real

Sidney Borges
No sertão da Bahia havia poucos rádios, e foi numa das raridades sonoras que ele ouviu a descrição de Marina morena, sua mulher, na voz de Dorival Caymmi. Marina morena, a minha Marina morena no rádio!? Ele desatinou, se fosse hoje diriam que surtou. Fora da razão foi direto para casa onde entrou resfolegando qual locomotiva da Central do Brasil:
- Eu mato o filho da puta e quando voltar de Salvador mais gente vai morrer.
E assim Raimundo Nonato Vieira partiu em lombo de jegue, depois jardineira e finalmente trem. Foi direto para a rádio de Salvador onde o inspirado Caymmi trabalhava. Os seguranças tiveram trabalho para conter o marido ultrajado. Só depois de muita conversa ele concordou em não cometer homicídio. Raimundo voltou relutante aos braços de sua Marina. Levava uma ponta de desconfiança, mas tinha sido contaminado pelo irresistível charme de Caymmi.
Voltou cantarolando: não pinte esse rosto que eu gosto e que é só meu, Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu... Me aborreci, me zanguei, já não posso falar, e quando eu me zango, Marina não sei perdoar. Eu já desculpei muita coisa, você não arranjava outra igual, desculpe, Marina, morena, mas eu tô de mal...

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