Deu em O Globo
WikiLeaks contra o Império
Elio Gaspari
A diplomacia americana levará tempo para se recuperar da pancada que levou da WikiLeaks. Tudo indica que 260 mil documentos sigilosos foram copiados por um jovem soldado num CD enquanto fingia ouvir Lady Gaga, cantarolando "Telephone": "Pare de ligar, eu não quero falar."
Um vexame para um país que gasta US$ 75 bilhões anuais num sistema de segurança que agrupa 1.200 repartições, contrata 2 mil empresas privadas e emprega mais de um milhão de pessoas, das quais 854 mil têm acesso a informações classificadas.
A WikiLeaks não obteve documentos que circulam nas camadas mais secretas da máquina, mas produziu aquilo que o historiador e jornalista Timothy Garton Ash classificou de "sonho dos pesquisadores, pesadelo para os diplomatas".
As mensagens mostram que mesmo coisas sabidas têm aspectos escandalosos. A conexão corrupta e narcotraficante do governo do Afeganistão é velha como a Sé de Braga, mas ninguém imaginaria que o presidente Karzai chegasse a Washington com um assessor carregando US$ 52 milhões na bagagem.
A falta de modos dos homens da Casa de Windsor é proverbial, mas o príncipe Edward dizendo bobagens para estranhos no Quirguistão incomodou a embaixadora americana.
O trabalho da WikiLeaks teve virtudes. Expôs a dimensão do perigo representado pelos estoques de urânio enriquecido nas mãos de governos e governantes instáveis.
Se aos 68 anos o líbio Muamar Kadafi faz-se escoltar por uma "voluptuosa" ucraniana, parabéns. O perigo está na quantidade de material nuclear que ele guarda consigo.
A revelação do interesse chinês na reunificação das Coreias chega a ser um fator de alívio.
Os seis telegramas relacionados com o Brasil já divulgados cumpriram uma escrita apontada domingo por Garton Ash. Revelaram a boa qualidade dos relatórios dos diplomatas americanos. Falta ver os 1.941 restantes.
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Elio Gaspari
A diplomacia americana levará tempo para se recuperar da pancada que levou da WikiLeaks. Tudo indica que 260 mil documentos sigilosos foram copiados por um jovem soldado num CD enquanto fingia ouvir Lady Gaga, cantarolando "Telephone": "Pare de ligar, eu não quero falar."
Um vexame para um país que gasta US$ 75 bilhões anuais num sistema de segurança que agrupa 1.200 repartições, contrata 2 mil empresas privadas e emprega mais de um milhão de pessoas, das quais 854 mil têm acesso a informações classificadas.
A WikiLeaks não obteve documentos que circulam nas camadas mais secretas da máquina, mas produziu aquilo que o historiador e jornalista Timothy Garton Ash classificou de "sonho dos pesquisadores, pesadelo para os diplomatas".
As mensagens mostram que mesmo coisas sabidas têm aspectos escandalosos. A conexão corrupta e narcotraficante do governo do Afeganistão é velha como a Sé de Braga, mas ninguém imaginaria que o presidente Karzai chegasse a Washington com um assessor carregando US$ 52 milhões na bagagem.
A falta de modos dos homens da Casa de Windsor é proverbial, mas o príncipe Edward dizendo bobagens para estranhos no Quirguistão incomodou a embaixadora americana.
O trabalho da WikiLeaks teve virtudes. Expôs a dimensão do perigo representado pelos estoques de urânio enriquecido nas mãos de governos e governantes instáveis.
Se aos 68 anos o líbio Muamar Kadafi faz-se escoltar por uma "voluptuosa" ucraniana, parabéns. O perigo está na quantidade de material nuclear que ele guarda consigo.
A revelação do interesse chinês na reunificação das Coreias chega a ser um fator de alívio.
Os seis telegramas relacionados com o Brasil já divulgados cumpriram uma escrita apontada domingo por Garton Ash. Revelaram a boa qualidade dos relatórios dos diplomatas americanos. Falta ver os 1.941 restantes.
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