Entretenimento

Corridas e corridas

Sidney Borges
Vou dar um pitaco fora da minha praia. Não acompanho Fórmula 1. Houve época em que cheguei a gostar desse espetáculo midiático que alguns entendem como esporte. Eu apreciava a habilidade de pilotos como Senna, Prost, Piquet, Emerson e gostava de ouvir os mais velhos tecendo louros aos feitos de Fângio.

Conduzir um carro a mais de trezentos quilômetros por hora não é para qualquer um, requer reflexos, coragem e muita técnica. Ontem, por acaso liguei a televisão e vi um piloto deixar outro passar para fazer jogo de equipe.

Não gostei. Ninguém gostou.

A manobra de bastidores privou o público do duelo que mediria a perícia de dois pilotos regiamente pagos.

Fiquei frustrado a ponto de saber que não vou mais acompanhar Fórmula 1, jogo de cartas marcadas. Se deve prevalecer o carro, sugiro aos decadentes milionários que comandam a farsa que tirem os pilotos e façam um autorama gigante. Vai empolgar tanto quanto a corrida de ontem quando milhões foram feitos de palhaços.

O menino Massa talvez não saiba, mas a história do "jogo de equipe" não colou. Dou um exemplo de como reage a massa tupiniquim.

Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o Brasil perdeu de goleada da Hungria e foi eliminado. Quatro a dois. Quem viu afirma que foi um jogo digno do talento de Felipe Melo, da medalhinha para baixo valia até tesoura voadora.

Na saída do campo o hungaro Czibor resolveu tirar uma com a cara dos brasileiros. Estendeu a mão para Maurinho, ponta direita do São Paulo que embora cabisbaixo pela derrota fez jus ao brasileiro cordial de Sérgio Buarque de Holanda e também estendeu a mão. 

O gringo tirou a dele e começou a rir.

A diversão durou pouco, um direto no estômago e uma esquerda na fuça espirrou sangue na parede e deu início à batalha campal. O conflito resultou num talho na testa do vice-ministro de Esportes da Hungria, Gustav Sebes e muita dor de cabeça ao delegado suíço de plantão que teve de ouvir os depoimentos dos brigões. Em Húngaro e Português. Ave Maria!

O Brasil não deixou barato, protestou na Fifa contra o complô soviético para levar a Jules Rimet.

Quando os jogadores voltaram foram recebidos como heróis. Até Luís Carlos Prestes, comunista de carteirinha, aplaudiu a bravura nacional. Perder é contingência do futebol, acovardar-se é coisa de fracos.

Depois da corrida de ontem a imagem de Felipe Massa distanciou-se anos-luz de Senna e Piquet. O simpático menino rico perdeu a chance de ser ídolo. Mas não será hostilizado, sempre haverá um sorriso de complacência homenageando seu talento.

Ele que vende pneus tão bem!

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