Papo do Editor

A perder de vista...

Sidney Borges
Estão vendendo carros como pipoca em porta de circo. O velho sonho da igualdade está se materializando via crédito fácil e abundante. Alguém poderia dizer que o Brasil é diferente por não ter sucumbido à crise que abalou o mundo em 2008.

Nem poderia, o debacle teve início nos Estados Unidos com a distribuição indiscriminada de empréstimos. Qualquer um podia comprar uma casa. Na hora de preencher os papéis aceitava-se "renda declarada". Fictícia ou não, ninguém se preocupava em investigar.

A festa acabou quando os compromissos deixaram de ser honrados. A teoria do dominó de McNamara não funcionou no Vietnã, mas caiu como uma luva nas instituições financeiras americanas e, por tabela, da Europa e da Ásia. Como dizem os rapazes do Rio Grande do Norte, foi um desmantelo. Pedras rolaram. "Rolling Stones" dos velhinhos roqueiros. 

Obviamente não aconteceu no Brasil onde ao emprestar 10 os bancos exigem garantias de 20. Política conservadora criticada, depois da crise, elogiada. São volúveis os especialistas em economia. O mundo não conhecia a prudência mineira. 

Há sinais de fumaça no horizonte. Precisando de reparos em casa chamei meu pedreiro de confiança. Horas depois encostou em casa um carro novinho, caro, ar condicionado, teto solar e piscina com jacaré. Era ele.

Conversamos sobre o trabalho, acertamos o pagamento, tomamos um cafezinho amigo e ao acompanhá-lo à porta elogiei a "barata". Orgulhoso ele disse que está pagando 600 reais por mês. Sessenta parcelas. Fora a gorda entrada de anos de economia. 

Meu pedreiro é diligente, trabalhador, vai honrar o compromisso. No entanto, o impulso da compra talvez tenha turvado a visão dele para detalhes. Imagino que não tenha levado em conta os custos fixos do seguro e do IPVA. Talvez opte por não fazer seguro e arrisque ter de arcar com os prejuízos advindos de colisão, incêndio ou roubo. O investimento pode virar pó em segundos e o compromisso tornar-se um fardo.

Quando ele me contou detalhes da obtenção do financiamento fiquei assustado. O capitalismo é cíclico. Se a China soluçar o dinheiro some da praça e a inadimplência explode. Não sei o tamanha da carteira de risco no mercado, mas se não virar problema no futuro será únicamente porque Deus é brasileiro.

Enquanto o jogo de risco é praticado, as cidades vão sendo entupidas. São Paulo está na iminência de parar. Literalmente. São tantos os carros que não há espaço nas ruas. Carros, viagens, cartões de crédito, a classe média emergente começa a sentir o gostinho da sociedade de consumo. E percebe nele o amargor da incerteza.

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