Comportamento

Jovens

Sidney Borges
Assistindo a um documentário sobre Cuba, no Canal Brasil, fiquei impressionado com a clareza do entrevistado. Peguei o bonde andando, não sei o nome da figura, era alguém ligado ao teatro. Com fluência e lógica falou dos tempos das vacas gordas, meados da década de 1980, quando o intercâmbio com nações do bloco socialista era intenso. Em Cuba não faltava nada, havia até um pouco de conforto burguês.

O entrevistador perguntou como os jovens viam o governo. Eram a favor? Não havia contestação? Ele disse que o apoio à revolução era majoritário. O povo estava de acordo com quase tudo, alguns mais seletivos posicionavam-se contra e envio de tropas ao exterior e à impossibilidade de sair do país. Mas sem alarde, críticas eram consideradas subversão e davam cadeia.

Nesse momento passou em frente à câmera um jovem com os cabelos à la Vagner Love. O entrevistado aproveitou a deixa e filosofou:

- Era um tempo de opção, eu acreditava na revolução, fiz de tudo para que desse certo. Hoje você pergunta a um jovem o que ele acha de Fidel e ele vai dizer que não sabe. A geração que está aí não tem interesse em política. São pragmáticos, querem tênis Nike, roupas da moda e tocadores de MP-3.

Quando a entrevista acabou me passou pela cabeça que de tempos em tempos a humanidade vive anseios coletivos. Só isso pode justificar o mesmo comportamento, no mesmo instante, em locais com condições de vida diferentes.

Nos anos da década de 1960, 1968 para ser mais preciso, a juventude do mundo rebelou-se. De todo o mundo. Basicamente por liberdade. Era preciso mudar. A rebelião que não teve cunho ideológico, abrangia costumes, tradição.

E, principalmente, sexualidade, tema engessado pela religião. 

Foi a geração nascida no pós-guerra que quebrou parâmetros, virou o mundo de pernas para o ar. Aconteceu na China, nos Estados Unidos, na Tchecoslováquia, na França, no Brasil e em outros países. 
Caetano Veloso formatou a tendência na canção: "É proibido proibir", pouco compreendida pelos alienados de esquerda.

Os jovens de hoje voltaram a ser próximos aos pais. E não se sentem conservadores. Pertencem à geração pós-ideológica, cultivam o corpo, buscam sucesso a qualquer custo, são hedonistas. Vistos de longe, embora nascidos em países tão diferentes como Brasil, Emirados Árabes, Itália, ou mesmo Cuba, parecem iguais. Com exceção da Argentina, onde o comportamento é o mesmo, mas os cabelos continuam em 1968...

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