Coluna da Segunda-feira

Davi e Golias

Rui Grilo
Na banca do Jóia, vi a seguinte manchete: “POPULAÇÃO NÃO ADERE AO MOVIMENTO UBATUBA DE LUTO”. A idéia é essa mas não me lembro se são exatamente essas palavras. Mas o fato é que fiquei pensando nisso.

Uma das idéias de Paulo Freire é justamente que não existe neutralidade.

Podemos tentar esconder, mas quando escrevemos sempre assumimos uma posição, de um lado ou de outro. A manchete poderia ser: “PREFEITO NÃO RECEBE OS CIDADÃOS” OU “PREFEITO FINGE QUE NÃO SABE QUE MANIFESTANTES IRIAM À PREFEITURA”, “CIDADÃOS PERDEM O MEDO E FAZEM MANIFESTAÇÃO. A manchete escolhida mostra de que lado o jornal ou o jornalista está.

É verdade que não marcamos audiência até porque já é praxe o prefeito não receber, não dialogar e deixar essa tarefa para seus auxiliares. É praxe ele usar uma mídia chapa branca que lhe dá o espaço para ofender aqueles que o criticam.

Já sabíamos que, embora os dois casos tenham chocado a população, não haveria um grande número de pessoas porque era um dia normal e nem todos teriam disponibilidade de tempo. Mas o fato que se percebe de maneira velada e não explícita é o medo de retaliações, pois a Prefeitura é a maior empregadora estabelecendo uma grande rede de vínculos, não só de patrão/empregado mas também de contratante e contratado, entre comerciantes e prestadores de serviço, pois como diz o ditado “para os inimigos, a lei”. É uma sensação muito parecida com aquela que sentíamos no período da ditadura e no tempo dos coronéis.

E é bom lembrar que, no começo, a luta contra a ditadura era um movimento de poucos e o “Movimento Diretas Já” foi boicotado até o fim pela Rede Globo. Cristo também começou a sua obra com apenas 12 apóstolos, que falíveis e humanos, muitas vezes eram invadidos pelo medo dos poderosos da época.

É bom lembrar que o prefeito afirmou que iria mostrar de que lado a população está realizando uma passeata maior no dia 13 e que seriam sorteados prêmios aos que dela participassem. Chegou a dizer que ouviu que pagaríamos 50 reais a quem participasse e que se confirmasse iria denunciar ao Ministério Público.

Podemos garantir que não fizemos nenhum sorteio e nem pagamos ninguém e, a grande maioria das pessoas que participaram do Movimento Ubatuba de Luto era constituída de familiares e amigos do Mauricio e do Caio e de pessoas que acreditam na necessidade de lutar para que os direitos fundamentais da pessoa humana sejam efetivamente respeitados.

Por isso, torcemos para que esse convênio com a Cruz Vermelha dê certo e que os serviços de saúde em Ubatuba realmente melhorem e não aconteçam novamente casos semelhantes aos do Mauricio e do Caio. De certa maneira, o apelo a uma entidade de fora revela a falta de quadros competentes para gerir esse serviço.

Mas a população precisa estar vigilante. Quando houve a terceirização da merenda, também éramos contra. No entanto, ela foi concretizada e somente foi rompido o contrato quando começaram a pipocar denúncias na Capital e em outras cidades contra a empresa que havia assumido aqui.

Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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