Varig: O cerco se fecha...

Pouso forçado

O Globo - Erica Ribeiro, Geralda Doca e Ronaldo D’Ercole
*RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO
A Boeing conseguiu ontem na Justiça de Nova York o direito a ter de volta sete aeronaves — cinco MD-11 e dois 777 - usadas pela Varig. A decisão foi da juíza Karla Moskowitz, da Corte Suprema do estado de Nova York, que, em seu parecer, argumentou que o atraso desde março nas parcelas de leasing está reduzindo o valor dos aviões. Pela decisão, os aviões permanecem na frota da companhia (atualmente de 54 unidades) até terça-feira, data da audiência no Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York com o juiz Robert Drain, que decidirá se a proteção dada à Varig contra arresto de aviões por empresas de leasing será mantida ou não.A juíza deu prazo até meio-dia de terça-feira para que a Varig pare de usar os aviões, e até 1 de julho para que a companhia entregue-os à custódia da Boeing. Os advogados da Varig não vão recorrer. A Boeing confirmou ontem à noite, no Brasil, que conseguiu a liminar que autoriza o arresto.Segundo a Varig, a decisão a favor da Boeing poderá perder o efeito caso Drain mantenha a proteção à Varig no próximo dia 13.No mesmo dia da audiência em Nova York, vence também a data para que a NV Participações, criada pelas associações de funcionários da companhia que formam o Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), deposite os primeiros US$ 75 milhões do pagamento pela empresa, se sua proposta for aprovada.O juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8 Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, intimou ontem os diretores da NV, única a apresentar proposta no leilão de quinta-feira pela Varig Operações (rotas domésticas e internacionais), a prestar esclarecimentos sobre a proposta.

Consultoria oferece US$ 800 milhões

A NV tem até segunda-feira para se manifestar. Se as condições não forem aceitas, há a possibilidade de o juiz avaliar propostas de empresas que se habilitaram no leilão. Entre as que participaram estão OceanAir, TAM, Gol e o fundo americano Brooksfield.Embora não tenha descartado decretar a falência da Varig, a tendência é que Ayoub aceite a proposta do TGV. O juiz quer saber se a entidade terá os US$ 75 milhões exigidos no edital. Se o dinheiro aparecer, Ayoub poderá aprovar a oferta e, com isso, dar fôlego à companhia. A empresa usaria os recursos para quitar parte da dívida atrasada com as empresas de leasing . Ele descartou a proposta apresentada ontem pelo fundo Multi-Long Corporation de comprar a Varig por US$ 800 milhões, com financiamento total do BNDES e sem garantias. - A proposta que estou avaliando é a do TGV. O valor ofertado, de US$ 449 milhões, supera o mínimo necessário para não ser caracterizado preço vil (o preço mínimo no leilão era de US$ 860 milhões).
Já o presidente da Infraero (uma das credoras da companhia), brigadeiro José Carlos Pereira, considerou a proposta do fundo estranha: - A proposta desse fundo é estranha e inaceitável. Por que eles não participaram do leilão?
Michael Breslow, presidente da consultoria Multi-Long, considera sua proposta, entregue ontem à Justiça do Rio e ao Ministério da Defesa, melhor do que a apresentada pela NV. Ele afirmou que sua empresa foi uma das que procuraram o BNDES em maio para o empréstimo-ponte à companhia aérea antes do leilão - o banco rejeitou por falta de garantias. Em sua nova proposta, Breslow oferece ao BNDES duas modalidades de financiamento, sem apresentação de carta-fiança. - Uma das formas é o aporte de US$ 800 milhões, 100% financiados pelo BNDES. A outra é o financiamento de US$ 365 milhões, com o restante do valor em debêntures da nova empresa e ações da Varig no mercado secundário da Bovespa, desde que nossa empresa fique com o controle da Varig - disse.Breslow - que diz ter esse nome por ser filho de ingleses - afirma que com US$ 800 milhões a Varig poderá, em cinco anos, retomar seu espaço no mercado. Segundo ele, sua empresa atua em consultoria para os setores industrial e aéreo desde 1998.
Em sua engenharia financeira, Breslow pede carência de três anos para iniciar o pagamento do empréstimo. Após esse prazo, o pagamento ao banco seria feito em oito anos, em parcelas semestrais. Ele afirma, ainda, ter uma carta da Boeing garantindo participação na operação. A Boeing negou ontem que tenha qualquer acordo com a Multi-Long. Segundo a Boeing, qualquer empresa com estrutura e capacidade financeira que venha a se interessar pela companhia aérea brasileira terá seu apoio.
Perguntado se colocaria dinheiro na operação, Breslow disse que sua contribuição será com o trabalho. - Entraremos com nosso empenho e nosso suor. O BNDES está sentado em cima de centenas de milhões e a situação da Varig é um motivo de força maior. Pedi três anos de carência, tempo dado pelo banco para compra de equipamentos. Não custa tentar. Sei que corro risco de ser barrado novamente pelo BNDES por não oferecer carta-fiança.
O BNDES informou que não recebeu qualquer pedido de aporte financeiro da Multi-Long esta semana. O banco não comenta sobre empresas que tiveram pedidos de financiamento recusados.
Também na segunda-feira, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estará no Rio, quando tomará medidas decorrentes da decisão do juiz. Na terça-feira, o órgão regulador não enviará representantes a Nova York, como ocorreu no último dia 31. Se a Justiça americana tivesse determinado a retomada dos aviões naquela data, a Anac, em nome do governo brasileiro, pediria um tempo para colocar em prática o plano de contingenciamento.
Ontem, Marcelo Gomes, diretor da Alvarez & Marsal - consultoria responsável pela reestruturação da Varig - garantiu que a companhia terá fornecimento de combustível pela BR até terça-feira e que, em reunião com os diretores da NV, alguns dos investidores estrangeiros citados pela empresa como participantes do consórcio foram revelados.
(*) Com Bloomberg News

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