Opinião

Histórias vivenciadas

Corsino Aliste Mezquita

“Considerações sobre o Cemitério Santa Cruz de Ubatuba”

Primeiro exemplo
Amigo íntimo estava à morte. Novembro de 1995. Os filhos aflitos ao pé do leito hospitalar solicitaram-me um favor: “Prepara com urgência nosso túmulo, no Cemitério Santa Cruz, para que fique pronto antes do desenlace definitivo. O médico comunicou ser questão de 48 horas”. Sai, do quarto, para o Cemitério Santa Cruz. Contactei o saudoso Sr. Altamiro e solicitei sua intermediação para contratar os serviços e executá-los de acordo com as normas da Prefeitura Municipal. Assim foi feito. Dias depois do sepultamento o túmulo foi coberto com lajem e revestido. Sempre de acordo com as orientações dos encarregados do cemitério. Alegavam que coberto não nascia mato, não acumulava sujeira e não criava bichos. Gerente do cemitério à época, Sr. Lúcio Flávio da Silva, de acordo com suas declarações na defesa apresentada para o ocorrido com o fatídico “X”.
Por incrível que possa parecer, o túmulo, estava pichado, com enorme “X”, no dia 08–11–07.
Os donos foram reclamar à Prefeitura. O atendente da repartição disse:
- A documentação está em ordem.
- Nada consta de irregular.
- A única coisa é que, agora, falam que a lei mudou e não aceitam mais, as lajens, cobrindo. Vão ter que quebrar a lajem, deixar na terra ou colocar uma pedra de ardósia ou granito por cima. Esses serviços, contratados, com os que cuidam do cemitério.
Ah! Monopólio! Reserva de mercado! Reserva estratégica! Indignado, o proprietário, disse que não tinha dinheiro para gastar nisso agora.
Não precisa fazer já. Pode deixar para fevereiro ou março. Anoto aqui que vai tomar providências e tudo OK.
Proprietário: “Enquanto isso o ‘X’ fica lá enfeitando. Esta administração só sabe perseguir e criar problemas à população. Nunca vi coisa igual. É uma turma de irresponsáveis”.
Educadamente o funcionário disse: “Sou efetivo, atendo todo mundo e não tenho nada a ver com o que está acontecendo no cemitério. Isso é lá com o Prefeito e os comissionados que ele colocou lá. Esclareço, no que posso, quem chega até aqui”.
Proprietário: “Você está certo. Sofre junto ouvindo o descarrego de nossas iras e nada pode resolver. Obrigado pela atenção. Bom dia”.

Segundo exemplo

Visitava o cemitério dia 08–11–07. Fui conferir como estava o túmulo da família. Tudo OK. Parado ao lado do túmulo de HERCULES BARBOSA – saudoso fundador e primeiro comandante da Guarda Municipal de Ubatuba – reparei que estava pichado com dois enormes “X” na cobertura. O túmulo está ajeitado, limpo, cuidado, revestido com cerâmica e com placa de identificação. Na hora estava entrando o Gerente do cemitério. Perguntei: “Qual o erro ou irregularidade do túmulo do Hercules?” “Tem que quebrar a lajem e deixar na terra ou colocar uma lápide de ardósia ou granito. Já falei com a esposa dele e ela me disse que não vai fazer, que assim está melhor e não tem dinheiro para gastar à toa”.
Você não acha que ela está certa?
Não respondeu. Ficou constrangido. O momento não era para menos. A sua espera estava o Dr. Promotor de Justiça e Cidadania.
Quantas histórias, dos quatrocentos túmulos pichados, são iguais ou semelhantes aos dos dois exemplos citados? Caso existam irregularidades quem as praticou ou autorizou? Certamente não foram os proprietários sozinhos. Nada, nos últimos vinte anos (onze dos quais sob a gerência do atual administrador), pode ser feito, no Cemitério Santa Cruz, sem autorização e supervisão de seus dirigentes. Deve ser pensado nisso. A Câmara não pode omitir-se. O conflito de interesses, público-privados, exigem providências imediatas e enérgicas. (Voltaremos ao assunto.)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu