Opinião
O petrolão chega ao Planalto
Estadão
O escândalo do petrolão chegou ao núcleo duro do governo de Dilma Rousseff. Estão sendo investigados dois dos principais ministros da presidente, os petistas Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Edinho Silva, da Comunicação Social – responsáveis diretos pela chamada “cozinha” do Planalto, onde todos os passos políticos do governo são decididos. Com o escândalo instalado na sala ao lado, Dilma, se tiver bom senso, pode afastar os dois imediatamente e proteger o mínimo que lhe resta de governabilidade ou então pode mantê-los e aceitar as consequências de ter assessores tão próximos sob o escrutínio da Justiça e da opinião pública, correndo o risco, ela mesma, de se ver salpicada de lama.
A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki autorizou a abertura de investigação contra Edinho, que foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Ele teria recebido R$ 7,5 milhões em propinas da UTC Engenharia, segundo declarou o dono da empreiteira, Ricardo Pessoa, em delação premiada.
Em seu depoimento, Pessoa afirmou que deu o dinheiro a Edinho depois que o tesoureiro fez ameaças veladas sobre a possibilidade de perder contratos com a Petrobrás caso a campanha de Dilma não recebesse os recursos. “Você tem obras na Petrobrás. O senhor quer continuar tendo?”, perguntou Edinho a Pessoa, segundo a revista Veja. O empreiteiro também informou que, entre 2010 e 2014, repassou dinheiro ao tesoureiro da campanha de Dilma em 2010, José de Filippi, e ao então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, além de ter dado recursos para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2006. Por esse motivo, a Procuradoria-Geral da República pediu que fossem investigadas todas as campanhas presidenciais petistas desde aquela de 2006.
Já Mercadante será investigado por ter recebido R$ 250 mil de Pessoa para sua campanha ao governo de São Paulo em 2010. Ele sustenta que a doação foi legal, mas Pessoa alega que se tratou de propina disfarçada de doação eleitoral, para lhe garantir contratos com a Petrobrás.
Tornou-se recorrente a suspeita de que as campanhas eleitorais petistas receberam dinheiro ilegal, fruto de pagamentos de suborno no escândalo da Petrobrás. Há tempos multiplicam-se as evidências de que toda a arquitetura da roubalheira na estatal foi pensada para financiar os esforços do PT para se manter no poder e, de quebra, abastecer os cofres de partidos aliados e os bolsos dos chamados “operadores” do esquema.
O PT, como resposta-padrão, insiste em que o dinheiro é resultado de doações devidamente registradas em suas prestações de contas. Para os procuradores e policiais que trabalham para desvendar o esquema, porém, as doações “legais” nada mais são do que truque para branquear o dinheiro da propina. O empreiteiro Pessoa chegou a dizer que depositava o dinheiro da propina “oficialmente numa conta do Partido dos Trabalhadores”.
Para uma presidente que precisa desesperadamente de alguma tranquilidade e que procura demarcar seu governo como um terreno a salvo da corrupção, é no mínimo imprudente manter Edinho e Mercadante como ministros. Os dois poderiam pedir licença de seus cargos enquanto se desenvolvem as investigações, a exemplo do que fez, em 1993, o então chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, citado na CPI que apurava o escândalo do Orçamento. Amigo do então presidente, Itamar Franco, Hargreaves poupou-o do constrangimento de se ver investigado enquanto exercia uma importante função de Estado. Três meses depois, quando ficou claro que ele nada tinha a ver com a história, Hargreaves foi reconduzido à Casa Civil.
Já os ministros petistas parecem dispostos a permanecer exatamente onde estão, na presunção de que um eventual afastamento seria como uma confissão de culpa. Ao alegarem que investigado não é o mesmo que culpado, eles preferem acrescentar ainda mais desgaste ao cotidiano de uma presidente que vive o inferno da queda de popularidade combinada com uma profunda crise econômica. Para que a tempestade ficasse perfeita, faltava apenas que as ondas do mar de lama quebrassem no Planalto. Agora não falta mais.
Original aqui
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O escândalo do petrolão chegou ao núcleo duro do governo de Dilma Rousseff. Estão sendo investigados dois dos principais ministros da presidente, os petistas Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Edinho Silva, da Comunicação Social – responsáveis diretos pela chamada “cozinha” do Planalto, onde todos os passos políticos do governo são decididos. Com o escândalo instalado na sala ao lado, Dilma, se tiver bom senso, pode afastar os dois imediatamente e proteger o mínimo que lhe resta de governabilidade ou então pode mantê-los e aceitar as consequências de ter assessores tão próximos sob o escrutínio da Justiça e da opinião pública, correndo o risco, ela mesma, de se ver salpicada de lama.
A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki autorizou a abertura de investigação contra Edinho, que foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Ele teria recebido R$ 7,5 milhões em propinas da UTC Engenharia, segundo declarou o dono da empreiteira, Ricardo Pessoa, em delação premiada.
Em seu depoimento, Pessoa afirmou que deu o dinheiro a Edinho depois que o tesoureiro fez ameaças veladas sobre a possibilidade de perder contratos com a Petrobrás caso a campanha de Dilma não recebesse os recursos. “Você tem obras na Petrobrás. O senhor quer continuar tendo?”, perguntou Edinho a Pessoa, segundo a revista Veja. O empreiteiro também informou que, entre 2010 e 2014, repassou dinheiro ao tesoureiro da campanha de Dilma em 2010, José de Filippi, e ao então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, além de ter dado recursos para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2006. Por esse motivo, a Procuradoria-Geral da República pediu que fossem investigadas todas as campanhas presidenciais petistas desde aquela de 2006.
Já Mercadante será investigado por ter recebido R$ 250 mil de Pessoa para sua campanha ao governo de São Paulo em 2010. Ele sustenta que a doação foi legal, mas Pessoa alega que se tratou de propina disfarçada de doação eleitoral, para lhe garantir contratos com a Petrobrás.
Tornou-se recorrente a suspeita de que as campanhas eleitorais petistas receberam dinheiro ilegal, fruto de pagamentos de suborno no escândalo da Petrobrás. Há tempos multiplicam-se as evidências de que toda a arquitetura da roubalheira na estatal foi pensada para financiar os esforços do PT para se manter no poder e, de quebra, abastecer os cofres de partidos aliados e os bolsos dos chamados “operadores” do esquema.
O PT, como resposta-padrão, insiste em que o dinheiro é resultado de doações devidamente registradas em suas prestações de contas. Para os procuradores e policiais que trabalham para desvendar o esquema, porém, as doações “legais” nada mais são do que truque para branquear o dinheiro da propina. O empreiteiro Pessoa chegou a dizer que depositava o dinheiro da propina “oficialmente numa conta do Partido dos Trabalhadores”.
Para uma presidente que precisa desesperadamente de alguma tranquilidade e que procura demarcar seu governo como um terreno a salvo da corrupção, é no mínimo imprudente manter Edinho e Mercadante como ministros. Os dois poderiam pedir licença de seus cargos enquanto se desenvolvem as investigações, a exemplo do que fez, em 1993, o então chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, citado na CPI que apurava o escândalo do Orçamento. Amigo do então presidente, Itamar Franco, Hargreaves poupou-o do constrangimento de se ver investigado enquanto exercia uma importante função de Estado. Três meses depois, quando ficou claro que ele nada tinha a ver com a história, Hargreaves foi reconduzido à Casa Civil.
Já os ministros petistas parecem dispostos a permanecer exatamente onde estão, na presunção de que um eventual afastamento seria como uma confissão de culpa. Ao alegarem que investigado não é o mesmo que culpado, eles preferem acrescentar ainda mais desgaste ao cotidiano de uma presidente que vive o inferno da queda de popularidade combinada com uma profunda crise econômica. Para que a tempestade ficasse perfeita, faltava apenas que as ondas do mar de lama quebrassem no Planalto. Agora não falta mais.
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