Opinião

Lula na oposição

Estadão
A clara improbabilidade de a atual crise econômica ser satisfatoriamente superada a tempo de permitir ao PT disputar com um mínimo de competitividade a eleição presidencial de 2018 sugere que a opção politicamente mais conveniente para o lulopetismo seria passar para a oposição, livrar-se da responsabilidade de consertar o estrago que fez no País e retomar com vigor o discurso populista que tem sustentado seu projeto de poder. Isso só seria possível, é claro, se o mandato de Dilma viesse a ser abreviado a tempo de Lula assumir, na oposição, seu papel predileto – o de salvador da Pátria em luta de peito aberto contra “eles”, os inimigos do povo. Inimigos que seriam responsabilizados por Lula pelo “golpe” contra Dilma que ele próprio, na intimidade, estaria comemorando.

Essa hipótese, mais de uma vez objeto de análise neste espaço, é claramente reforçada pelo pronunciamento feito por Lula na capital paraguaia, quando contestou declaração feita na véspera por Dilma Rousseff sobre a necessidade de aplicar o “remédio amargo” do corte de gastos – inclusive em programas sociais –, para o ajuste fiscal necessário para debelar a crise econômica. Segundo Lula, a falta de dinheiro é mera “desculpa”, porque “é muito difícil encontrar alguém dos setores da Fazenda e do Tesouro” disposto a contribuir “para ajudar os que vêm de baixo”. As orelhas de Levy arderam.

Com essa manifestação marota que escamoteia o fato de que a atual crise econômica foi provocada, não apenas, mas principalmente, pela gastança descontrolada do governo petista, Lula procura descolar sua imagem da arrasadora impopularidade do poste que colocou na Presidência da República. O ex-presidente brindou a plateia paraguaia com uma exaltação a sua iniciativa de, em seu primeiro mandato, investir em programas sociais: “Era um momento em que a economia brasileira não estava bem (...) em que qualquer ministro da Fazenda (...) iria dizer que não poderia fazer o programa porque não tinha dinheiro. Eu, então, resolvi que era exatamente naquele instante que nós tínhamos que dar o exemplo da inclusão dos mais pobres no Orçamento da União”.

Lula se considera, como se vê, o primeiro e único governante brasileiro a se preocupar com os pobres, aos quais prestou sua homenagem: “O pobre ajudou a salvar o Brasil (ao se beneficiar das políticas de incentivo ao consumo). Eu sempre digo que, antes de eu chegar à Presidência, os pobres eram tratados como se fossem problemas. E hoje eu digo que cuidar dos pobres é a solução”.

Generosamente, Lula compartilhou com o presidente paraguaio, Horácio Cartes, a seu lado na solenidade, a fórmula do sucesso: “Nunca antes tinha acontecido um fenômeno que fizesse com que a economia começasse a girar com tamanha rapidez, e a gente percebeu isso: política pública, crédito e comida para as pessoas”. E acrescentou uma observação que deliberadamente desqualifica do ponto de vista social o governo de sua sucessora: “Eu, portanto, acho que nós estamos em um momento de voltar a acreditar nos pobres outra vez”. 

Lula vinha sendo ambíguo em relação ao programa de ajuste fiscal de Dilma, tendo afirmado várias vezes que o PT precisa apoiar, no Congresso, os projetos apresentados pela equipe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Era até uma questão de coerência, considerando que foi ele próprio quem sugeriu a Dilma colocar um economista “liberal” no comando da equipe econômica. Só que, agora, o pragmático chefão do PT chegou à conclusão de que é praticamente impossível o governo recuperar a economia em tempo de viabilizar sua própria candidatura à Presidência em 2018. E tem manifestado aos mais próximos a convicção de que, como já não se pode salvar o governo, pelo menos que se salve o PT – ou seja, ele próprio.

Isso explica a situação surreal em que se encontra a presidente da República, que não se decide se conserta ou não o estrago por ela mesma provocado nas contas do governo e na economia nacional e, qualquer que seja a situação, não pode contar sequer com o apoio do partido que a elegeu.
Lula aguarda ansioso, dia após dia com menor discrição, o momento de passar oficialmente para a oposição mirando as eleições de 2018. Para isso é preciso tirar Dilma do caminho. Por razões diferentes, Lula quer o mesmo que a imensa maioria do povo.

Original aqui

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