Opinião

Teste para a Grécia

Estadão
Confiança foi uma das palavras mais repetidas por ministros europeus nas entrevistas sobre as negociações de um terceiro pacote, estimado em A 86 bilhões, de ajuda à Grécia. Antes de mais dinheiro para pagar as contas e manter seu país na zona do euro, as autoridades gregas terão de reconstruir, pelo menos em parte, sua credibilidade. Por isso, as autoridades europeias anunciaram na manhã de segunda-feira, depois de 17 horas de reunião, um acordo apenas provisório. Pelo combinado, o primeiro-ministro Alexis Tsipras teria dois dias para conseguir a aprovação parlamentar de uma reforma previdenciária, de um aumento de impostos e de mais algumas mudanças menos complicadas politicamente. Só depois do teste começaria a discussão efetiva, detalhe por detalhe, da nova operação de socorro e das metas do programa de ajuste econômico e fiscal.

Apesar da intransigência aparente do governo alemão, era previsível o esforço político para manter a Grécia na zona do euro. A reunião de ministros de Finanças, primeira parte da maratona programada para domingo, terminou num impasse. Coube aos chefes de governo, na longa reunião seguinte, apresentar a fórmula conciliadora, com a imposição de uma agenda preliminar às autoridades gregas. Manteve-se o risco de um fracasso, mas a cobrança de uma demonstração inicial de boa vontade foi acompanhada de alguns sinais positivos.

O país poderá ter um prazo maior para liquidar sua dívida, hoje superior a A 300 bilhões. Não haverá redução do valor nominal, mas a hipótese de juros mais suaves ainda pode ser discutida. Ficou sobre a mesa, além disso, um possível programa de curto prazo, de até A 30 bilhões, para estímulo à economia. Mas tudo isso dependerá de uma retomada efetiva das negociações do novo resgate, prevista para depois do teste preliminar de confiabilidade.

Sobrou espaço, enfim, para o primeiro-ministro Alexis Tsipras dizer algumas palavras positivas a seu público: “Enfrentamos uma dura batalha durante seis meses para alcançar o melhor resultado a nosso alcance, um acordo para manter a Grécia em pé”. Tomando duras decisões, acrescentou o premiê, as autoridades gregas evitaram as “ambições extremistas dos círculos mais conservadores da Europa”.

Na prática, os gregos terão de enfrentar, de qualquer forma, um programa severo de ajuste, mesmo se as negociações efetivas permitirem a adoção de metas mais brandas que as anteriores e mais favoráveis à recuperação da economia.

Os credores mais poderosos dificilmente poderiam concordar com critérios muito mais brandos que os impostos à Espanha, a Portugal e à Irlanda. Os três países venceram a fase mais penosa do ajuste, entraram em recuperação e recobraram acesso ao mercado financeiro. Ainda estão em dificuldades, mas passaram na prova e ganharão vigor, neste ano e no próximo, se nenhum novo desastre afetar a União Europeia.

O acordo condicional inclui a exigência de formação de um fundo de A 50 bilhões com recursos gregos, provenientes de privatizações. O fundo poderá destinar metade desse dinheiro à recapitalização dos bancos. O restante poderá ser usado tanto para o pagamento da dívida externa (até A 12,5 bilhões) quanto para investimentos. Mas certamente será preciso antecipar o socorro aos bancos, já quase quebrados, com recursos do Mecanismo Europeu de Estabilização.

Esse dinheiro será reposto pelo fundo. Segundo o acordo provisório, autoridades gregas poderão administrar o fundo, mas sob supervisão de instituições europeias.
Se nenhuma surpresa ocorrer nos próximos dias, as autoridades gregas acabarão aceitando regras bem mais severas do que admitiam em seus discursos eleitorais ou mesmo na fase do referendo realizado há pouco mais de uma semana. Provavelmente aceitarão também um novo entendimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI), providência recomendada pelos credores europeus. Mas a forma final do terceiro acordo de resgate, se afinal for celebrado, poderá ser um pouco mais suave do que teria sido sem o esperneio grego. Os dois lados terão tido bons motivos para ceder.

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