Opinião

Segurança nuclear em revisão

O Globo - Editorial
O acidente no complexo nuclear de Fukushima decorreu de um dos maiores desastres naturais conhecidos na história. Embora o Japão seja um país preparado para enfrentar grandes terremotos, a onda gigantesca que se seguiu foi devastadora.

Usinas nucleares devem estar preparadas para se desligarem automaticamente diante de qualquer risco, mas, no caso de Fukushima, equipamentos de reserva que ajudariam nesse processo ficaram inoperantes com o terremoto e a inundação.

No mais grave acidente do setor nuclear (a explosão de um dos reatores de Chernobyl, na Ucrânia), o ponto de partida foram testes em equipamentos auxiliares feitos sem a devida atenção por parte da equipe responsável pela operação da usina.

A preocupação com a segurança tem de ser uma obsessão no caso de usinas nucleares, por se tratar de instalações que envolvem sempre elevados riscos. Os mecanismos de proteção que envolvem radioatividade se multiplicaram nos últimos anos, especialmente nos projetos de construção de novas usinas (há 49 delas nesse estágio no mundo, sendo 25 na China e uma no Brasil).

As áreas convencionais não precisavam desse tipo de proteção, a não ser aquelas voltadas para a integridade das salas dos equipamentos de controle, inclusive impedindo a entrada de pessoas não autorizadas nos recintos.

Mas certamente o que aconteceu no Japão exigirá uma revisão de todos os procedimentos e até de projetos.

O Brasil possui apenas duas usinas nucleares. Está construindo uma terceira e tem planos para várias outras, pois um país cuja demanda por energia aumentará significativamente nas próximas décadas não pode dispensar essa fonte, com alto potencial de geração (usinas como Angra 2 e 3 podem gerar o mesmo que as grandes hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, em Rondônia, situando-se relativamente perto dos maiores centros de consumo).

Ainda que a contribuição da energia nuclear seja pequena na matriz energética brasileira — 1,5% da capacidade de geração de eletricidade, enquanto no mundo esse percentual passa de 15%, e no Japão, especificamente, atinge a 44,5% — o país se destaca na questão de segurança das usinas.

Operadores de Angra 1 e 2 são treinados em simuladores que funcionam como réplicas das salas de controle. São, portanto, preparados para todas as situações de emergência, mesmo que suas iniciativas sejam precedidas por procedimentos automáticos (exatamente para se evitar a possibilidade de erros humanos).

A usina japonesa acidentada é de um modelo mais antigo e com tecnologia não predominante no setor.

No entanto, não há dúvida que um episódio tão grave como este — qualquer acidente em uma usina nuclear é sempre muito sério — põe em xeque a indústria como um todo onde quer que esteja sendo usada.

Se, como se espera, a energia nuclear passará a ter participação mais relevante na matriz mundial, a opinião pública deve ser bem esclarecida sobre os riscos que ela envolve e o que precisa ser feito para neutralizá-lo.

Caso contrário, a energia nuclear voltará a ser condenada, como aconteceu anos atrás, interrompendo programas que hoje já seriam decisivos no esforço contra o aquecimento global.

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