Gente apaixonada por Ubatuba

A saga dos Patural (Parte VI)

José Ronaldo Santos
Eis a última parte da Saga Patural. Foi com muita satisfação que dei uma revisada, parte por parte, conforme ia sendo publicada. Agradeço aos editores (Sidney e Emílio) e aos leitores pelo interesse na história de coragem de Jean-Pierre e Silvia. Creio ter alcançado o meu objetivo principal, ou seja, dar a conhecer um pouco dessa gente apaixonada por Ubatuba. Depois da conclusão da entrevistada, encerro com as últimas considerações que não posso omitir.

'Infelizmente não tive sorte com a Sesmaria, pois o meu caseiro Melentino tentou uma ação de usucapião, mas sem nenhum êxito. Apesar disso declarou-se dono da Sesmaria e, há anos, vem vendendo pequenas áreas a compradores de Ubatuba que sabem perfeitamente que o mesmo não é proprietário. A Patrícia, minha primeira filha, assim que alcança os dezoito anos se volta para a questão. Nós temos os documentos, os registros dos funcionários. Até indenização o Melentino recebeu.

Em 1992, Jean Pierre Júnior, sendo engenheiro civil, decide vir morar em Ubatuba, iniciando a construção de seu primeiro barco de pesca de camarão e dedicando-se exclusivamente a essa atividade. É casado; tem uma filhinha. Aqui nesta casa somos nós: eu e Patrícia. Eu decidi, após me aposentar pela Unitau, vir também para Ubatuba. Afinal o meu filho já estava morando aqui, além desta terra ter fascinado por tanto tempo a família Patural.

Atualmente não pensamos mais em mexer na questão do Ubatumirim. Porém, toda a documentação está em nosso poder. Há alguns anos estivemos na propriedade; deu pena ver tudo aquilo sem nenhum investimento, as pessoas que se apoderaram estão vivendo numa situação de miséria e não têm nenhuma perspectiva de vida. Vocês acreditam que eles continuam usando as duas casas que ainda foram construídas por nós, sem fazerem nada de melhorias?

Antes de concluir a minha fala, preciso dizer que até um estudo do potencial das águas das cachoeiras foi feito com muita dedicação pelo Jean Pierre; já tinha o projeto de energia gerada alí mesmo, tornando, certamente, uma fazenda-modelo.


Para finalizar: assim que os meus pais souberam do acorrido, me escreveram pedindo que retornasse à França com as crianças. Eu pensei bem, refleti sobre a situação da Europa e sobre os sonhos em que eu e meu marido tanto apostamos, me alegrei da nossa ousadia e coragem que se baseava num grande amor. Além do mais, eu estava empregada, ganhando razoavelmente bem e, as crianças estavam estudando e se dando bem no Brasil. É lógico que eu pensei: se voltasse para lá teria que recomeçar tudo de novo. E eu amo este país!”

Algumas considerações minhas:

1- o norte do município teria lucrado muito se os sonhos do francês fossem concluídos, pois sua fazenda demonstraria aos caiçaras as alternativas tecnológicas e as medidas mais racionais para acreditar no potencial produtivo que temos;

2- o povo caiçara teria uma outra perspectiva de vida e de resistência frente à especulação imobiliária que acompanhou um modelo de turismo predatório, ou seja, que condicionou melhoria de vida à renúncia das terras ancestrais;

3- a cultura, continuando enraizada e circundada pela realidade próxima, se fortaleceria mais e contribuiria para a preservação de todos os aspectos implícitos no binômio natureza-homem;

4-um povo vivendo bem com suas raízes também ama a cultura erudita e fermenta as bases para uma sociedade mais justa, solidária e com mais amor, ou dizendo de outra maneira, recria a Terra.

Entrevistada: Sílvia Polacco Patural
Relatório: José Ronaldo dos Santos

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