Coluna do Editor

Silvio Santos vem aí...

Sidney Borges
A primeira vez que ouvi o "Peru que fala", apelido que hoje seria politicamente incorreto, foi lá pelos idos de 1958, quando governava Juscelino. Na hora do almoço todo mundo sintonizava a rádio Nacional para ouvir o programa Manoel de Nóbrega e a parada de sucessos!

Caçador e Águia Negra caçavam a fera do mar e nos intervalos Silvio Santos, então com 28 anos, apregoava as vantagens do carnê Erontex e aconselhava os pais a comprar um "Baú da Felicidade" para tornar os filhos felizes.

Pois foi esse Baú que encheu de dinheiro o baú do Sílvio. A empresa Baú da Felicidade foi fundada por Manoel de Nóbrega nos moldes das cestas de natal. Havia duas famosas, a "Amaral", que dava de presente um boneco no estilo do "Falcon" e a "Columbus", igualzinha à Amaral, até caberia o apelido de Amaral do B. Quando a cesta chegava, Amaral ou Columbus, era uma festa.

O Baú era uma cesta de Natal sem panetones e licores, só tinha brinquedos. Uêba! Aos 10 anos eu ficaria feliz se ganhasse um, meu pai preferiu me dar livros subversivos de Monteiro Lobato. Sem saber dos riscos que corria li Caçadas de Pedrinho de uma sentada só.

O Baú acabou não vingando nas mãos de Manoel de Nóbrega. Sem interesse ele passou a bola para Silvio Santos que descobriu a pólvora e ficou rico vendendo carnês e sorteando casas e geladeiras. De ilusão também se vive, de iludir os outros vive-se melhor.

Minha avó que acreditava em tudo comprava os tais carnês, pagava em dia e ao quitar a última prestação retirava uma mercadoria no valor do total pago. Naquele tempo tinha inflação, o que dava a Sílvio uma imensa margem de lucro. O valor pago não era indexado e a mercadoria retirada mal chegava a 10% do valor do dinheiro do carnê aplicado em caderneta de poupança.

Era isso que ele fazia, recebia milhões, aplicava em poupança e ficava cada dia mais rico.

Não podemos esquecer do talento de Sílvio. De locutor de rádio ele passou em poucos anos a dominar as tardes dos domingos na televisão. Comprava o horário e vendia carnês em seu programa de atrações populares.

No final da década de 1970 a Tupi do Chatô afundou qual o Titanic. O governo militar deu a concessão a Sílvio, que não gostava de jornalismo e não daria problemas com denúncias. Governos ditatoriais detestam imprensa. Nascia o SBT, inicialmente TVS. No começo um sucesso de audiência e um completo fracasso comercial. 

A partir de acertos na programação as coisas foram se estabilizando. O SBT assumiu lugar de destaque no faturamento televisivo e Silvio continuou enriquecendo. Cada dia mais rico acabou como os ricos de verdade: banqueiro. O maior acionista do Banco PanAmericano.

Agora vem a notícia da quebra do banco, do socorro mal explicado e das evasivas de Sílvio ao dizer que vende o SBT para pagar o prejuízo. Logicamente ele também diz que não sabia de nada!

Não sei no que isso vai dar, nem sei se a verdade dos números virá à tona. Tenho como certo que jamais comprarei carnês do Baú e nunca, em hipótese alguma, sintonizarei o SBT.

Sílvio vai ter o que ensinar ao diabo quando assumir o posto de locutor do serviço de alto-falantes das fornalhas. Ele sabe entreter as massas. O demo, que anda desacreditado, precisa de um conselheiro hábil.

Sílvio Santos vem aí...

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