Coluna da Dra. Luiza Eluf

Cuidando do esgoto

Luiza Nagib Eluf
O Brasil vem descuidando do saneamento básico há muitas décadas. Há numerosas localidades, inclusive no Estado de São Paulo, em que não se processa o tratamento do esgoto e o saneamento básico é inexistente. Em Ubatuba, a natureza é maravilhosa e os rios são de água cristalina. Mas o descaso com a limpeza é a regra e há verdadeiros paraísos ecológicos contaminados por coliformes fecais.

O assunto é da maior importância, pois estamos assistindo a uma calamidade pública no Haiti, que bem poderia ter ocorrido por aqui. Suspeita-se que alguns militares das forças da ONU, em missão de paz naquele país, teriam levado o vírus do cólera e contaminado centenas de pessoas, iniciando uma epidemia mortífera. A ONU negou que suas tropas tivessem causado a contaminação, mas, na verdade, isso agora pouco importa. Qualquer localidade em que a água consumida não seja devidamente saneada, por falta de tratamento de esgoto ou de cuidado na ocupação das margens dos rios, estará sujeito a contaminações dessa natureza. É impossível evitar que pessoas infectadas viagem de um país para outro, de uma cidade para outra e, por essa razão, nos dias atuais, qualquer doença contagiosa pode se espalhar descontroladamente por todo o mundo. Os países mais vulneráveis serão sempre aqueles que negligenciaram a preservação da pureza de suas águas.

Veja-se o caso do bairro e da praia Itamambuca, em Ubatuba. A bacia do Rio Itamambuca sofreu ocupação irregular de áreas de preservação em suas margens. Os invasores providenciaram o despejo direto de seus esgotos no rio, desrespeitando as mais elementares normas de cuidado sanitário. Qualquer pessoa infectada por vírus ou bactéria que se alojar nas áreas invadidas poderá contaminar toda a população da cidade, de uma hora para outra. Além das doenças como hepatite, tifo, problemas de pele, e outras transmitidas por águas contaminadas, se alguém portador de cólera passar por ali e usar um banheiro, estaremos todos perdidos.

Não é mais possível brincar com a sujeira. A irresponsabilidade dos governantes não pode mais continuar. Em primeiro lugar, as ocupações irregulares de áreas de preservação precisam acabar. O desequilíbrio ambiental causa danos enormes à saúde. Ao mesmo tempo, o despejo direto de esgoto nas águas fluviais é uma barbaridade digna de irresponsáveis ignorantes. Tanto os que jogam o esgoto quanto os administradores que deixam que isso aconteça demonstram descaso com a saúde pública.

Diante do quadro no Haiti, país próximo do Brasil, todo cuidado será pouco. Cabe à cidadania exigir providências imediatas ás autoridades brasileiras.

Luiza Nagib Eluf é Procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo.

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