Brasil

A saúde (de quem?) é prioridade

José Ronaldo dos Santos
Há trinta e quatro anos comecei a contribuir com o sistema brasileiro de previdência social (ainda tenho a antiga carteirinha do INPS). De acordo com a legislação atual, devo contribuir por mais dez anos (até alcançar a idade mínima). Desde o princípio fui obrigado a acreditar que, um dia, iria precisar disso. Assim continuo nesta sangria; está no meu demonstrativo de pagamento: 11% (onze por cento de desconto todo mês do meu salário). Porém, o foco deste texto é outro: trata-se de um fato que, dependendo do desespero da pessoa, pode gerar o maior “barraco” ou até mesmo coisa pior. O fato é o seguinte: no dia 23 de junho último fui ao Posto de Saúde do Ipiranguinha para um exame; de lá, o clínico geral me encaminhou para um cardiologista, no centro. Deste, em meados de agosto, recebi um novo encaminhamento: dois exames teriam de ser feitos em Caraguatatuba, no tão propagandeado AME. Completei o ciclo no setor de agendamento. Depois esperei... esperei... esperei... Fui algumas vezes atrás da data para os exames, mesmo ouvindo dos funcionários que receberia a notificação via telefone. O agente (do PSF) responsável pelo setor, pela rua onde moro, começou a ficar incomodado pela demora e pelas cobranças. Pessoa honesta na sua função, foi atrás do processo. Finalmente tinha uma resposta. Assim se expressou: “Zé, infelizmente eu tenho uma má notícia para você. Toda a sua documentação foi perdida na Secretaria Municipal de Saúde. Agora vou precisar refazer tudo. Você pode providenciar cópias dos documentos... etc... etc...”. Perderam uma pasta!? Quantas pessoas passam por isso? Quem deve ser responsabilizado por isso? Quem pagará o tempo que eu desperdicei? Como ressarcir uma frustração, uma raiva contida?

A resposta do agente é do dia 22 de outubro. Portanto, perdi tudo o que fiz desde junho. O trabalho de meses – via-sacra! - terá de ser refeito. E olhe que isso não se compara com os descasos impingidos aos mais pobres! Imagine se fosse uma urgência! Quando, uma pessoa, sofrendo seriamente, pode aceitar tais descasos passivamente, principalmente se for consciente de que tais funcionários (desde o atendente do posto até o presidente do país), em tais órgãos, só existem porque ela é uma das contribuintes, paga impostos sob todas as formas, inclusive sob a desculpa que é para a sua própria previdência?

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