Coluna da Segunda-feira

Reflexões sobre a mídia

Rui Grilo
A Comissão Organizadora da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) definiu três eixos temáticos: “Produção de Conteúdo”, “Meios de Distribuição” e “Cidadania: Direitos e Deveres”. Um quarto eixo – Controle Social da Comunicação - foi rejeitado devido à pressão dos empresários, mas deverá perpassar todas as discussões devido à alta concentração dos meios de comunicação na mão de poucos, fato que dá margem à manipulação das notícias, impedindo o acesso à variadas opiniões e versões dos acontecimentos.

Essa situação é agravada pelo fato de grande parte da população ter acesso às informações apenas pela tv ou pelo rádio. Poucos lêem jornais ou revistas e estes, quase sempre reproduzem as informações veiculadas pelos primeiros, pois fazem parte dos mesmos grupos econômicos, políticos e sociais. Aos poucos, a internet vai quebrando esse monopólio, mas ainda não é acessível a todos.

Vejamos um fato recente. Quase todos os meios de comunicação repetiram a mesma versão sobre a invasão do MST à fazenda da Cutrale, apresentando seus membros como bandidos. Somente depois, é que ficamos sabendo que a área tinha sido grilada pela empresa e que existe uma ação pública de reintegração. Por que esse fato não havia aparecido antes e com o mesmo destaque?

Não é estranho que a repetição intensa da notícia se dê no mesmo momento em que uma tentativa de instalação de uma CPI para investigar os repasses de recursos públicos a entidades ligadas ao Movimento tivesse fracassado pela retirada de assinaturas de alguns parlamentares depois da entrega de um manifesto de apoio ao MST com a assinatura de mais de 4.000 personalidades?

Não é estranho que a grande imprensa não dê destaque às ações positivas do MST, colaborando para o avanço tecnológico da agricultura familiar, dando condições de sustentabilidade e de maior produtividade?

Não é estranho que ela não divulgue com a mesma ênfase o fato de que o censo agropecuário de 2006 aponte que a agricultura familiar é o setor mais produtivo, que gera mais empregos e coloca alimentos mais saudáveis na mesa da população brasileira ? E que apesar de ocupar apenas um quarto (24,3%) da área cultivada, responde por 38% da produção, 70% da produção de feijão, 87% da mandioca, 58% do leite e 46% do milho, produtos de largo consumo alimentar?

Podemos não concordar com a estratégia para chamar a atenção para o descaso com a reforma agrária e com a crescente concentração de terras nas mãos do agronegócio e que pode se voltar contra o movimento, mas a existência de formas alternativas de comunicação trouxe a baila que a suposta vítima (a Cutrale) não era tão inocente assim. Ficou bastante claro que a grande mídia já optou a quem quer defender e não quer mostrar o outro lado da notícia.

Quando aparece um outro enfoque da questão , é porque alguém, com destaque na sociedade, mas que não tem o rabo preso com os grandes grupos econômicos, assume a defesa do movimento. No entanto, quase sempre, não é apresentado com o mesmo destaque, como é o caso dos dados acima publicados na página A-3 da Folha de São Paulo de 11/10/09.

Portanto, as discussões da Conferência Nacional de Comunicação prometem ser acirradas. Precisamos acompanhar.

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