Opinião

Astrologia econômica

Carlos Alberto Di Franco
O Brasil de hoje, independentemente das sombras que pairam no quadro financeiro mundial e que, queiramos ou não, toldarão o horizonte da nossa economia real, é um emergente respeitável. Os tucanos atribuem nossa boa performance às sementes plantadas no governo FHC. Já os petistas, embalados nos notáveis índices de aprovação presidencial, jogam todas as fichas na conta do presidente Lula.


Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, com seus erros e acertos, contribuíram positivamente para que chegássemos ao atual patamar. Fernando Henrique modernizou o Estado. Lula iniciou o resgate da fatura social. A história, distanciada das paixões e livre dos juízos precipitados, fará justiça aos presidentes.

O Brasil melhorou. É indiscutível. Todos reconhecem que estamos mais preparados para enfrentar a acomodação posterior aos abalos sísmicos. O clima de sinistrose, no entanto, renasce constantemente. E ultrapassa, de longe, a gravidade objetiva dos fatos. Não se trata de praticar um otimismo infantil e insensato. Mas o pessimismo recorrente, ancorado no exercício da astrologia econômica, não faz bem ao Brasil. As reações ciclotímicas não se manifestam somente no futebol, mas também na economia. O pavor da crise pode piorar a crise.

Mesmo em tempos difíceis, é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura. O bom jornalismo reclama um especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real - a que está aí - pode ser amplificada pelos megafones do negativismo midiático. À gravidade da situação, inegável e evidente, acrescenta-se uma forte dose de pessimismo. O resultado final é a potencialização da crise.

Alguns setores da imprensa, em nome da independência e da imparcialidade, têm feito uma opção preferencial pelo negativismo. Os jornais, pensam, têm uma missão de contraponto, de denúncia. Concordo. E de denúncia enérgica. O problema não está aí, mas na miopia, na obsessão seletiva pelos aspectos sombrios da realidade.

Uma cachoeira de prognósticos negativos corre solta. A análise isenta, verdadeiramente jornalística, talvez conduza a um horizonte menos assustador. O País está numa corrida de obstáculos e, como nos estádios, a pista não termina no abismo. Estamos, todos, ricos, emergentes e pobres, navegando num mesmo transatlântico. Em caso de naufrágio, não haverá afogamentos seletivos. Iremos todos a pique. Também os ocupantes da primeira classe (ou do Primeiro Mundo). E os países ricos, por óbvio, têm muita bala na agulha e uma imensa pressa para virar esta página negra da história da economia mundial. Por isso, sem otimismo tolo, é preciso reconhecer que o Brasil, pelo tamanho de seu mercado, pela iniciativa que demonstra, é maior do que as circunstâncias de momento.
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