Espaço do leitor

Usando e preservando

O crescimento, mesmo que vegetativo, das populações requer novos espaços. Óbvio. Os espaços,não se restringem apenas para moradia e sim, para todas demais atividades intersociais humanas. Assim, a preservação (legal) permanente de determinadas áreas estará sempre ligada ao crescimento das populações e suas necessidades praticadas no meio ambiente. Exclusa a paixão inerente pela "paisagem preservada" friamente, pode-se (e deve-se) concluir, que preservação de qualquer espaço, está diretamente ligada ao crescimento (e à satisfação de suas necessidades) das populações de seu entorno. Crescem as cidades, e proporcionalmente as áreas destinadas aos acessos (ruas, avenidas, estradas) ao abastecimento (água, esgotos, agricultura, pecuária e as áreas de lazer locais ou em outros possíveis destinos. Dentro deste quadro realístico e dinâmico, somado ainda as interligações entre cidades, estadas e nações, é que deveria amparar-se toda a legislação e as ações de cunho preservacionista. Se não há controle da natalidade e sem o "sagrado" direito de ir e vir, preservar o meio ambiente e cumprir ao "pé da letra" a legislação pertinente (na maioria das formas propostas) vai tornando-se, na prática, uma utopia. Se a preservação é para o Homem (digamos até do futuro) não podemos esquecer de que em muitas situações, principalmente em espaços já saturados, o futuro é hoje. Aqui em nossa cidade, onde características peculiares, provocaram situações de ocupação, dignas de estudos de comportamento humano, podemos observar inúmeras alterações ambientais em um curtíssimo espaço de tempo. A influência das necessidades de espaço de outros centros urbanos, provocaram, com a construção de novas estradas de acesso (Carvalho Pinto) e adequações as antigas (Dutra, Tamoios e Osvaldo Cruz) em um primeiro momento, provocaram uma corrida explosiva no setor imobiliário. Para atender esta super demanda de mão de obra e demais serviços tivemos uma imigração (também explosiva) de outros municípios em busca de renda para uma "uma vida melhor". Os "locais" (caiçaras) foram "perdendo" seus "espaços" e sua cultura, praticamente desapareceu. A miscigenação descaracterizou e fez desaparecer, até mesmo seu peculiar biótipo. Diante de tantas transformações e influencias externa (até mesmo, e por que não, contra vontade de muitos) o que dizer então, das alterações ambientais ocorridas? A cidade, pacata com seus poucos habitantes, não estava preparada muito menos (como muitas) dispunha (e até hoje não dispõe) de um planejamento de crescimento para atender esta demanda. O Estado (também sem planejamento) não "enxerga" essas peculiaridades e não contribui (como deveria) com a organização destas ocupações. Simplesmente continua inerte, com uma legislação ultrapassada (para as necessidades da populaçãolocal) aplicando punições (em alguns bodes expiatório) para justificar (politicamente) sua presença na preservação ambiental. A realidade bem outra. Bloqueada, muito longe de todas as vantagens da exploração racional do meio ambiente de que se tem notícias e conhecimento de outros destinos turísticos, nacionais e internacionais, vai-se degradando, em todos os sentidos, por osmose, e distanciando-se, de sua única vocação (o turismo) que contribuiria para preservar verdadeiramente (dentro de uma política realista) o seu meio ambiente. Uma projeção ilustrativa seria: O homem morrendo de fome contemplando o (preservado) palmito. Negar essa realidade é desconhecê-la. Negar a Ubatuba o destino de sua vocação, é condená-la (junto com seus habitantes) à favelização, em todas suas formas conhecidas e suas perniciosas conseqüências. Contra esta corrente, que cega, insiste por este insano e despropositado caminho, alguns obstinados (amantes deste pedaço caprichado do criador) ainda (mesmo injustamente perseguidos) lutam. Lutam (sós) esta batalha (também insana) entre a lei e a realidade. Talvez acreditem no poder da "resistência" e possam, com isso, estar contribuindo com aqueles que optaram por viver neste nosso Meio.

Ronaldo Dias

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