Pensata

A alavancagem da inteligência

Há alguns meses a Revista VEJA publicou artigo de cunho educacional que impressiona pela lição que encerra. Trata-se de uma avaliação estatística relativa ao desempenho comparativo entre os alunos regulares do Colégio Visconde de Porto Seguro, de São Paulo, e os da sua Escola da Comunidade, nos exames vestibulares de acesso ao nível superior de ensino.
O Colégio Visconde de Porto Seguro, com 128 anos de existência, é um dos mais conceituados de São Paulo e do país, com cerca de 10.500 alunos em suas várias unidades. A instituição tem raízes germânicas e oferece um currículo suplementar enriquecido pelo estudo de diversas atividades culturais e ensino de línguas.
O colégio oferece 805 bolsas a alunos carentes que constituem o contingente da Escola da Comunidade. Estes alunos desfrutam dos mesmos currículos, corpo docente, atividades culturais, laboratórios, aulas de reforço e tudo o mais que o colégio oferece aos seus alunos pagantes.
Os alunos pagantes são, em grande maioria, de famílias de nível sócio-econômico médio a alto, enquanto os bolsistas são de famílias de nível inferior.
No artigo constata-se que enquanto os alunos regulares mostram altíssimo aproveitamento nos exames vestibulares, os bolsistas apresentam aproveitamento medíocre, algo em torno de 70 e 15 por cento, respectivamente.
O articulista, especialista em educação, concluía que a despeito de toda a ênfase que a sociedade coloca e transfere à escola na formação educacional do jovem, em seu entender e em razão da avaliação feita no citado colégio, a escola responderia, apenas, com um peso de 30 por cento, enquanto o ambiente sócio-cultural no qual o jovem se desenvolve desde sua meninice responderia com 70 por cento.
A despeito de estatisticamente a amostragem ser muito diminuta, a excepcional qualidade, no caso, do ensino e das oportunidades oferecidas, consubstanciaria a conclusão feita.
Esta lição impressiona, especialmente por demonstrar que não basta um ensino curricular, mesmo de altíssimo nível, se a criança/jovem não usufrui de um ambiente sócio-cultural favorável que possa dar apoio ao seu desempenho escolar formal.
Em síntese, seria a formação cultural que o ambiente propicia que alavanca ria o aprendizado formal.
No contexto desse ambiente cultural podemos incluir a disciplina do jovem no estudo, a motivação suscitada pelos pais, o ambiente cultural do lar, as informações assimiladas de bom contexto científico e cultural, a competição entre pares no desempenho escolar, as atividades culturais de conteúdo enriquecedor, um ambiente não conspurcado por radicalismos e ideologias retrógradas e isento de maniqueísmo, entre outros fatores.
Qual desafio esta constatação coloca diante da sociedade? Obviamente, não há como descurar da melhoria incessante da qualidade do ensino escolar formal. Urge, todavia, que se agregue cultura geral à formação da criança e do jovem, ou pelo próprio ambiente familiar, ou pela sociedade, na ausência daquele. Caberia, portanto, a entidades culturais, fomentar a disseminação da boa cultura entre os jovens, paralelamente às suas atividades escolares regulares: ONGs, fundações culturais, clubes sociais e esportivos, bibliotecas, museus, escolas de artes, de línguas, de música, clubes de literatura, etc. É utilizar toda essa estrutura cultural existente e enfocar a criança e o jovem como principal alvo a ser lapidado
Eis aí, pois, o desafio dessa alavancagem necessária para o completo desabrochar da inteligência e da aptidão mental dos jovens que se tornará poderoso instrumento a se opor a essa subcultura e contracultura que por tantos meios entranhou-se em nossa sociedade.
Tanto quanto educar é preciso aculturar nossa juventude, dar-lhe uma formação liberal, no sentido clássico do termo, pois, como enfatizamos em outro artigo, é uma formação liberal que prepara o homem para o mais completo desempenho de suas funções sociais e podemos aduzir, para um mais amplo desenvolvimento de sua inteligência.

Ernesto F. Cardoso Jr.
Economista e MBA

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