Opinião

Completa-se a despudorada Trump Inc.

Clóvis Rossi
A nomeação de Rex Tillerson, chefão da Exxon Mobil, para o Departamento de Estado, completa um esquema nunca antes visto no mundo: um governo que não é uma equipe administrativa mas uma corporação privada, a Trump Inc.

Não sou ingênuo a ponto de imaginar que o dinheiro não seja determinante na formação de governos e, por extensão inevitável, nas políticas por eles adotadas.

Basta ver o caso do Brasil de Lula, teoricamente um homem de esquerda com ideias supostamente socialistas: bastou assumir para indicar Henrique Meirelles para ministro da Economia "de facto", como presidente do Banco Central. Nessa condição, era o responsável por duas das três políticas decisivas (juros e câmbio, além de influir na terceira, a fiscal).

Era a maneira de sinalizar para os tais "mercados" que jogaria o jogo conforme as regras deles, o que de fato fez.

Feita essa ressalva, cabe reconhecer que, na maioria dos países, há pelo menos um certo pudor em escancarar a influência dos homens de negócio na gestão da coisa pública.

O Departamento de Estado, por exemplo, sempre ficou reservado ou para profissionais do ramo ou para pessoas públicas.

Com Trump, abandona-se todo e qualquer pudor, o que, de resto, era previsível: pudor foi tudo o que não existiu durante sua campanha.

Agora, tem-se não uma mais duas raposas tomando conta do galinheiro, para usar uma imagem nova e criativa: além de um secretário de Estado vindo de uma empresa de petróleo, o novo chefe da EPA (Agência de Proteção Ambiental) é Scott Pruitt, advogado das poluidoras mais inoxidáveis e crítico das restrições ao envenenamento ambiental.

Alguém aí acha que esses dois vão proteger o ambiente em vez das empresas das quais são oriundos? Ainda mais que o chefe deles acredita que mudança climática é invenção dos chineses para prejudicar a América e impedi-la de ser grande de novo.

O gabinete Trump consegue a proeza de reunir Wall Street (na figura de Steve Mnuchin, novo secretário do Tesouro, vindo da Goldman Sachs) e o que os americanos gostam de chamar de "Main Street", a rua principal pela qual transitam os produtores de bens e serviços).

Lembrete: a Goldman Sachs é aquela mesma empresa que ajudou a maquiar as contas da Grécia, para permitir que o país fosse aceito no euro, o que, a médio prazo, ajudou a afundá-lo.

É evidente que qualquer governo trata de defender os interesses de seu país, o que os Estados Unidos, em qualquer época, fizeram sempre com maestria. Mas, na gestão Trump, a defesa da América será a defesa das corporações norte-americanas, sem pudor em desrespeitar os interesses de seus parceiros.

São tempos sombrios não só no Brasil. 

Original aqui

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