Opinião

Bem-vindos a Israel

João Pereira Coutinho
Mais um dia na Europa, mais um atentado terrorista. Começa a ser rotina. Como se a Europa fosse agora um grande Israel.

Aliás, por falar em Israel, lembro uma conversa antiga com um jornalista inglês, que me dizia, com gélido cinismo: "Nunca entendi por que motivo as pessoas defendem Israel. O país é nossa salvação: enquanto as bombas forem para eles, nós estaremos seguros."

Difícil discordar —e os números não mentem. Quando Israel era o alvo preferencial do jihadismo suicida, a Europa vivia a sua ilusão de segurança.

Mas depois da "segunda intifada" (2000 - 2005), quando Israel tomou medidas drásticas (construção de barreiras, destruição de abrigos terroristas, assassinatos seletivos etc.), parece que o pessoal fanático começou a viajar para outras pastagens.

Turquia. França. Espanha. Escócia. Inglaterra. Suécia. Agora a Bélgica, com 31 mortos e 187 feridos (números provisórios). Eis as cidades que passaram a ocupar as primeiras páginas. A mudança geográfica foi tão acentuada que, hoje, é difícil encontrar Tel Aviv ou Jerusalém na lista funerária.

Mas essa mudança geográfica não se limita apenas a comparações entre Israel e a Europa. Melhor dizer: entre o Oriente Médio e a Europa. Quem são os jihadistas que operam em Paris ou Bruxelas?

Pelas informações disponíveis, falamos de dois tipos de fauna: cidadãos desses países, de ascendência muçulmana, que se radicalizaram com a mensagem do "Estado Islâmico" sem nunca saírem do país.

Ou, então, ex-combatentes do "Estado Islâmico" que, depois da experiência no Iraque e na Síria, entenderam que era mais útil regressar a casa e atacar diretamente as suas sociedades abertas e desprotegidas.

Até porque o "Estado Islâmico", ironia das ironias, dá sinais de dificuldades no Oriente Médio. Em artigo para a "Foreign Policy", Henry Johnson afirma: no fim de 2014, o "Estado Islâmico" controlava 1/3 do Iraque e 1/3 da Síria.

Dois anos depois, quer por acção curda no norte da Síria, quer pela eficácia brutal dos bombardeamentos russos, o grupo perdeu 22% do território. Cidades ocupadas pelo ISIS, como Raqqa, Palmyra ou Aleppo, podem deixar de o ser.

Em teoria, saber que o ISIS está em dificuldades deveria ser motivo para festejos. Na prática, é preciso lembrar as palavras de um dos seus líderes, Abu Muhammad Al-Adnani: sempre que surgir a oportunidade de matar um infiel em qualquer parte do mundo, não há que hesitar.

Ontem, foi Paris. Hoje, foi Bruxelas. Amanhã, pode ser qualquer cidade do Velho Continente. Simples matemática: se na Europa circulam 5.000 jihadistas (número da Europol), a questão não passa por perguntar se haverá próximos atentados. A questão é saber onde e quando.

Bem-vindos a Israel.

Original aqui

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