Papo do Editor

Fazenda modelo

Sidney Borges
Precisamos de estradas asfaltadas, escolas em tempo integral, hospitais que atendam a todos, rede ferroviária modernizada, portos eficientes e aeroportos sem congestionamentos. Precisamos criar empregos para os jovens que chegam ao mercado de trabalho.

Foi o que ouvi ontem na televisão enquanto aguardava o jogo da Libertadores. Fiquei empolgado com a disposição dos candidatos, se pudesse votaria em todos, menos naquele que pede para não votar em burguês. Vou votar em quem? Intelectual? Camponês? Depois das eleições o Brasil vai melhorar, se é que dá para melhorar este paraíso onde diamantes afloram nas ruas enquanto rios de leite e mel correm em regatos cercados de flores. Como são bonitas as periferias de nossas cidades!

Tudo graças ao presidente Lula, obviamente. Desde que inventou a roda e expulsou os vendilhões do templo, "Nosso Guia" não perde a oportunidade de praticar gentilezas. Gentil homem. Gentil Lula.

Em Ubatuba há grande expectativa sobre o destino dos edis afastados. Informações chegam de São Paulo dando conta que o desfecho está próximo. Talvez na próxima semana.

Achei da maior importância a coluna do Rui Grilo sobre o plebiscito em torno da reforma agrária. Há poucas semanas reli o livro de Akio Morita sobre a criação da Sony. Ele fala da reforma agrária do Japão, imposta pelas autoridades americanas de ocupação. A estrutura fundiária teve papel importante no militarismo que levou o Japão à guerra contra os Estados Unidos. Americanos fazendo reforma agrária parece sacrilégio, o tema é propriedade quase exclusiva dos comunistas. Com a reforma em curso os japoneses livraram-se do peso de latifúndias milenares e, pasmem, não caíram nos braços de Moscou. Os novos proprietários das terras tornaram-se pequenos empresários e passaram a lutar por casas melhores, escolas melhores para os filhos, carros, tratores e artigos de consumo supérfluos que fazem a alegria dos burgueses. Pequenos proprietários são conservadores. A reforma agrária do Brasil será um passo definitivo no fortalecimento da democracia.

Em meados da década de 1970 dei aulas em Sorocaba e fiquei amigo de um comerciante da cidade. Petrucho. Gordo e filosófico, parecido com Orson Welles, tinha sempre uma história saborosa para contar, poucas vezes envolvendo pessoas, Petrucho era um cavalheiro, falava de idéias.

Através dele eu soube da história da vodka brasileira, bebida européia que virou moda nos anos 50. Uma grande destilaria trouxe especialistas da Europa, exilados da União Soviética, para começar a produção nacional. A primeira providência foi obter os ingredientes, cereais rigorosamente selecionados da Argentina e do Canadá.

A primeira safra ficou tão boa que os técnicos diziam que não havia nada comparável na Europa. Petrucho perguntou o porquê e ficou sabendo que na União Soviética faziam vodka de batatas. Desde a coletivização forçada da agricultura, nos anos 20, ação que matou mais de 5 milhões de pequenos proprietários, nunca a agricultura soviética conseguiu superar o impacto da estúpidez praticada.

Na Polônia a vodka alternava safras razoáveis, havia matéria-prima, embora a maior parte fosse exportada para a União Soviética para alimentar a população. Em certos anos era preciso recorrer às batatas. No Brasil nunca faltará matéria prima, a reforma agrária dará uma horta a cada sem-terra e todos viveremos felizes para sempre.

E não haverá plebiscito bolivariano capaz de coletivizar nossa agricultura. Também não procede o boato de que teremos estatização de quitandas e barbearias. Ainda bem, meu barbeiro, o Fanta, é dono do próprio nariz. Tenho certeza de que ele não quer ser funcionário público.

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