Farc

A resposta que não houve

Rui Fabiano (original aqui)
Um dado chamou a atenção no direito de resposta exercido pelo PT contra o site Mobiliza PSDB e contra a revista Veja, ambos obtidos na Justiça Eleitoral e pelo mesmo motivo - acusação ao partido de manter vínculos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O PT simplesmente nada respondeu.

Não fez, no texto reparador, nenhuma menção ao que o motivou. A resposta, a mesma para ambas as publicações, não cita as Farc. Passa ao largo da acusação. Faz apenas profissão de fé democrática e se diz contra o tráfico de drogas e o terrorismo.

Como o PT não foi acusado nem de uma coisa, nem de outra – e sim de manter relações amistosas com uma organização que notoriamente os pratica -, manteve no ar o teor do que contesta.

Decisão judicial se cumpre – e foi cumprida. Mas isso não invalida que se avalie sua consistência. A revista Veja já publicou diversas matérias, ao longo dos últimos anos, de idêntico teor à que foi contestada. Algumas bem mais contundentes, inclusive de capa. E não foi acionada pelo PT, até porque a documentação que exibia era suficientemente ampla para impedir negativas.

Em síntese, demonstrou por diversas vezes o vínculo, expresso em troca de correspondências e participação conjunta no Foro de São Paulo – criado pelo PT e presidido por anos por Lula -, entre o partido e a guerrilha. A matéria alvo da sentença condenatória era, comparativamente, amena. O diferencial foi o calendário eleitoral.

E aí impõe-se uma dúvida: a liberdade de imprensa reduz-se em face do calendário? Os fatos se alteram retrospectivamente?

Veja não mentiu, nem exagerou. Poderia ter republicado fac-símiles de e-mails trocados entre dirigentes das Farc e gente do comando do PT. Ou do ofício em que a então chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, requisitava a brasileira Angela Slongo, esposa do dirigente das Farc Olivério Medina (refugiado no Brasil), para trabalhar na Secretaria da Pesca.

Mas tudo isso já havia sido publicado, repita-se, sem contestação do PT – até porque contra fato não há argumento. Pode haver apenas desmentidos falsos, que não se sustentam. E houve.

Lula, por exemplo, negou com veemência e indignação qualquer relação com as Farc. Adrenalina, porém, produz alterações apenas no sistema nervoso, não sobre os fatos.

Lula presidiu, em 2003, ao lado do então líder máximo das Farc, Raul Reyes (morto em 2008 pelo exército colombiano), uma assembleia do Foro de São Paulo, segundo informação do próprio PT, em vídeo em que divulgou o III Congresso da entidade. Reyes a mencionou, em entrevista à Folha de S. Paulo, naquele ano.

As Farc integraram o Foro desde a fundação, convidadas pelo PT. Tornaram-se, depois do sequestro de Ingrid Bettencourt – e pela repercussão negativa internacional daquele ato criminoso -, em 2002, apenas ouvintes do Foro, mais jamais se ausentaram dele.

Mesmo no curso do atual governo, o assessor da Presidência da República, Gilberto Carvalho, um dos mais íntimos colaboradores de Lula, dirigiu, em parceria com o chefe militar das Farc, Manuel Marulanda Vélez (“Comandante Tirofijo”), a revista “América Libre”. Está lá, no expediente da revista, o seu nome.

Como classificar essas parcerias? Compreende-se, pois, que o PT tenha evitado no seu direito de resposta menção às Farc. O que não se compreende é o critério dos juízes para atribuir-lhe esse direito diante do clamor documental dos fatos – que, além de tudo, impôs mais um revés à liberdade de imprensa.

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