Campanhas eleitorais

A voz do dono e o dono da voz

Candidatos à Presidência sempre receberam apoio de cantores populares para ganhar prestígio e arrecadar votos

por Marcelo Xavier (original aqui)
O que tinham Isaura Garcia, Elizeth Cardoso, Alvarenga e Ranchinho, Sílvio Caldas, Francisco Alves, Luiz Gonzaga e Aracy de Almeida em comum? Mesmo sendo já conhecidos do grande público e, talvez por causa disto mesmo, grandes nomes da música popular também se envolveram em campanhas eleitorais e foram intérpretes de jingles políticos. Alguns números chegaram a fazer sucesso, e muitos são lembrados até hoje. Umas eram francamente favoráveis a este ou aquele candidato; outras, porém, faziam sátira política sobre nomes ou dos rumos da sucessão presidencial. Para não serem confundidos com os candidatos a quem defendiam e para evitar constrangimentos, muitas vezes eles gravavam as canções protegidos por pseudônimos.

Primórdios — Para a campanha de Júlio Prestes, em 1929, Luís Peixoto, um dos maiores cantores da chamada “Era do Rádio”, e que mais tarde faria sucesso com “No Tabuleiro da Baiana”, trouxe a campanha eleitoral para o disco na música “Não se meta com seu Júlio”, de Heckel Tavares. Na letra, de sua autoria, Peixoto desafiava a sopre de tuba o então candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas, a tomar cuidado com seu adversário, que à época tinha o apoio dos principais grupos oligárquicos dos estados que o apoiavam. De Rio de Janeiro e São Paulo: Getúlio, Fon, fon fon, fon, você está comendo bola, não se mete com "seu Júlio" que seu Júlio tem escola”. Seu “Júlio” levaria as eleições no bico e no cabresto mas, a três do outubro de 1930, Getúlio Vargas tomaria o poder através de golpe militar.

Em 1937, o jonal A Noite promoveu um concurso para saber quem seria o vencedor no ano seguinte. Carmen Miranda defendia uma das músicas, “Minha Terra Tem Palmeiras”, de João de Barro e Alberto Ribeiro: minha Terra tem um homem, ninguém sabe quem será, minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, ô, que terra boa prá se vadiá”. Mas a vencedora foi “A Menina Presidência”, de Antônio Nássara, interpretada por Sílvio Caldas que, coincidentemente ou não, anteciparia o desfecho eleitoral: "o homem quem será, será seu “Manduba” ou será seu “Vavá, entre esses dois meu coração balança, porque, na hora “H” quem vai ficar é seu Gegê”. Dito e feito: nem José Américo, nem Armando Sales: à 10 de novembro, Vargas anunciou o Estado Novo. Eleição, agora, só dali a oito anos...
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Marcelo Xavier
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