Opinião

A milhagem do presidente

Editorial do Estadão
Quando era oposição, o PT não perdia oportunidade de criticar o "deslumbramento" do então presidente Fernando Henrique com as galas que lhe proporcionava, nas suas viagens ao exterior, a sua condição de chefe de Estado e com a envaidecedora companhia dos poderosos da Terra. Isso, diziam os petistas simploriamente, era o que explicava o fato de a sua agenda internacional ser mais carregada do que a de qualquer de seus antecessores. "Ele viajou ao exterior, em 7 anos de mandato, 355 dias", exclamava Lula em 2002, como quem denuncia um grave desvio de conduta ou um delito de lesa-pátria.

Famosas últimas palavras, é o caso de observar. Reportagem publicada domingo no Estado mostra que só nesses 2 anos completos do seu segundo período no Planalto Lula passou bons quatro meses e meio no estrangeiro. Foi como se ele tivesse levantado voo no Airbus presidencial de US$ 56,7 milhões em um 1º de janeiro e só voltasse a pousar na Base Área de Brasília em um 17 de maio. Lula definitivamente tomou gosto pela coisa. No seu primeiro biênio, ele fez 39 viagens a 35 países, passando 82 dias fora. Já entre 2007 e 2008, foram 39 deslocamentos a 46 países, que consumiram 138 dias.

Na era da chamada diplomacia pessoal ? em que, de resto, o ir-e-vir dos governantes faz parte da promoção da imagem de cada qual para a opinião pública dos respectivos países ? o problema, naturalmente, é menos o da frequência das viagens, em si mesma, do que o da sua razão de ser. Para onde se vai e com qual finalidade é o que pesa. Em outras palavras, os roteiros de presidentes e primeiros-ministros representam hoje em dia, mais do que nunca, talvez, um indicador seguro da direção das políticas externas dos governos que comandam; ou melhor, da qualidade dessas políticas, tendo em vista, como não poderia deixar de ser, em cada caso, o interesse nacional.

Nesse sentido, é eloquente a extensa relação de países visitados por Lula ? excluídos os da América Latina, da mesma forma como, em levantamento semelhante, caberia excluir as idas de um mandatário francês ou alemão, por exemplo, a nações da União Europeia: em toda parte, geografia é destino, literalmente. (De qualquer maneira, o saldo dos encontros do brasileiro com os colegas da vizinhança é outra história.) Excluam-se também, em consideração às afinidades históricas, as visitas de Lula às antigas colônias portuguesas na África. Mas, para dizer o mínimo, não está claro o que o Brasil ganhou com as visitas do seu presidente a países como o Gabão, Líbia, Namíbia, Vietnã, Burkina Fasso, Congo, Gana, Indonésia?
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