Nem me diga!

Sabarães

Sidney Borges
Na minha tenra juventude conheci um velho senhor português especializado em sabarães. Você não sabe o que é? Experimente digitar no Google. A resposta: Não foram encontradas páginas padrão na Web contendo todos os termos de sua consulta. Sua pesquisa - sabarães - não encontrou nenhum documento correspondente. Nhaca! Quando conheci o homem que me revelou esta fascinante história, ele estava de partida para Macau onde iria fazer uma conferência sobre sabarães orientais de dois bicos. Por falar em partida, tenho como certo que a primeira vez que falamos foi em uma partida de buraco, ao lado da barbearia do Mesquita, na Portuguesa de Desportos, no Canindé. Eu jogava buraco de vez em quando, enquanto esperava o treino da patinação artística. As patinadoras. Ah! As patinadoras! Seu José não tinha muita certeza do ano, mas garantiu que os primeiros sabarães foram criados no começo do século XX, em uma aldeia chamada Travanca de São Tomé, Carregal do Sal, Portugal. Um ex-marinheiro conhecido por Joaquim Pé-de Pato, que após anos de pesca de bacalhau tornou-se renomado confeiteiro, misturou os ingredientes e ficou famoso no Algarve, embora morasse longe de lá. Isso não quer dizer nada pois a Madonna mora longe do Paquistão e é famosa no Paquistão, embora também seja conhecida em Belo Horizonte. Do Carregal do Sal, pelas mãos do Judeu Caolho, um holandês que vendia debêntures do banco Espírito Santo e que por acaso era judeu e também caolho, os sabarães foram parar no Norte de Portugal, onde logo se tornaram mania. Dizia seu José que não eram tão bons quanto os do Sul ou mesmo os da Região Central, mas eram superiores aos de Espanha, afirmação que ninguém jamais contestou, inclusive na tarde em que a assertiva foi proferida as cabeças dos jogadores de sueca à nossa volta fizeram sinal afirmativo. Com os avanços tecnológicos e a globalização tornou-se quase impossível distinguir sabarães legítimos de imitações chinesas, mas enquanto o Muro de Berlim resistiu os sabarães portugueses não tiveram competidores à altura. Voltando ao começo do século, a coisa caminhava mansa até que apareceu a gripe espanhola, seu José, com medo, embarcou num vapor das linhas malaias rumo ao Brasil. Navios temerários, de cada três que partiam um afundava e outro se perdia. Após visitar os países bálticos e passar três mêses a azeitonas e arenque defumado, meu amigo desembarcou em Santos com uma bruta sede. Trazia na bagagem os primeiros sabarães a adentrar o território brasileiro. Fizeram sucesso, seu José ficou rico fazendo e vendendo sabarães na Rua Direita, perto da Praça do Patriarca. Há um único problema com os sabarães. Por não existir a forma singular, acabam engordando. Não fica bem pedir um sabarães, soa equivalente a pedir um ovos ou dois pastel. Para não passar por ignorante você vai ter de pedir dois, como fazem os argentinos quando o câmbio os favorece. Dá-me dos. Dos o que, mano? Dos sabaranes, por supuesto. Para encerrar, duas perguntas depois de um afirmação. Uma cidade onde não existe oposição, não existe democracia. O que a cidade é então? Sultanato?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu