O cobiçado gás da Bolívia

Ligações duvidosas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu corretamente ao rejeitar as pressões para ceder à Argentina parte do gás importado da Bolívia. Havia cedido no ano passado, mas não poderia repetir a gentileza, pois o País, como disse o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, precisa de cada molécula daquele gás. Mas assumiu o risco de sujeitar-se a novas pressões ao aceitar a formação de um grupo de trabalho para discutir o problema energético da região. Tratar a energia como problema regional pode ser um boa idéia, se cada um dos parceiros estiver disposto a considerar o interesse de todos e a contribuir para a solução. Mas nada justifica uma aposta nessa cooperação. O governo brasileiro tem sido o único a ceder, nas negociações com os vizinhos, e continua a ser tratado como o único parceiro com muitas e pesadas obrigações e nenhum interesse legítimo. O próprio governo petista alimentou essa distorção ao adotar uma diplomacia baseada numa equivocada noção de liderança regional. O presidente Lula afastou-se desse padrão, na semana passada, ao resistir ao cerco armado pelos presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Bolívia, Evo Morales. Só uma ação combinada entre os governos argentino e boliviano pode explicar a presença de Morales em Buenos Aires no sábado passado, quando os presidentes do Brasil e da Argentina discutiram a questão do gás. Mas nada poderia justificar a interferência do governante boliviano nessa conversação. Seu interesse em desviar para a Argentina uma parte do gás contratado com o Brasil é evidente, por causa da diferença de preços: US$ 7 por milhão de BTU para o mercado argentino e US$ 5,60 para o brasileiro. Mas não cabe ao governo da Bolívia remanejar os contratos e redistribuir o gás fornecido a seus clientes. Como não cabe ao Brasil pagar pelos erros cometidos pelos parceiros.
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