Imprensa

Notas sobre o jabaculê

Carlos Brickmann (original aqui) 
Procure à vontade, caro colega: você já viu algum destino turístico que nossos meios de comunicação achem ruim? Algum hotel devidamente classificado como um estabelecimento chinfrim? Aqueles em que as instalações são inadequadas, que nem sempre estão bem limpos, onde a comida é fraquinha e o serviço deixa a desejar, como é que escapam dos filtros de nossa imprensa? Por que será que todos os destinos turísticos são paraísos terrestres?

Simples: todo o noticiário de turismo é patrocinado. O hotel oferece as diárias, alguém dá a passagem, os restaurantes lutam para ter a honra de receber os repórteres. Se é tudo de graça, como falar mal dos anfitriões?

E se fosse só no turismo, que ótimo! Mas em outras áreas acontecem coisas estranhas. Nada contra a empresa que oferece brindes aos repórteres. Mas os brindes têm de estar no limite do bom senso. Recentemente, uma grande empresa automobilística ofertou aos repórteres um netbook com todo o material de imprensa sobre seu novo lançamento. É um brinde que extrapola os limites do bom senso: um netbook custa aproximadamente 1 mil reais, variando conforme a configuração. Como falar algo negativo dos produtos da empresa que acaba de dar um presente caro como este?

É um tema que dá muita discussão. Há anos, uma empresa enviou boas canetas a vários editores de um jornal paulista. A questão acabou sendo levada ao proprietário do jornal, cuja opinião foi de que o brinde era apropriado (há uma relação próxima entre profissionais da escrita e instrumentos de escrita) e que seu valor não era nada de extraordinário. Mas houve quem, mesmo assim, considerasse que o brinde era uma tentativa de suborno. Em outra oportunidade, aconteceu até de alguém recusar um bolo de aniversário, enviado por uma agência de propaganda, pelo mesmo motivo (outros preferiram dividir o bolo com a redação, e estava muito gostoso).

Mas, analisemos, embora ambas sejam "jabás", são coisas diferentes: uma é um brinde que uma empresa de fora manda a alguns jornalistas, e que pode ser recusado ou não; outra é uma iniciativa da própria empresa jornalística, que os repórteres não têm como rejeitar. Cabe às empresas de comunicação, que com muita justiça lutam pela liberdade de noticiar e opinar, estender as fronteiras da notícia e da opinião a todas as editorias. Turismo também é reportagem; e deve estar sujeito às mesmas normas éticas.

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