Opinião

As metas da educação

Editorial do Estadão
Apesar dos vultosos investimentos realizados no setor educacional, que permitiram a universalização do ensino básico na atual década, o País ainda continua distante da revolução qualitativa da rede escolar pública. E, apesar de as autoridades educacionais terem fixado metas de aproveitamento e produtividade até certo ponto modestas, muitas delas não têm sido atingidas.

Esta é a conclusão de um levantamento que acaba de ser publicado pelo movimento Todos pela Educação - uma ONG integrada por gestores públicos e entidades educacionais e apoiada por grandes empresas, como Gerdau, Camargo Corrêa, Suzano, Odebrecht, Bradesco, Banco Itaú, Banco Real e DPaschoal. O estudo analisou os resultados da Prova Brasil, que é um mecanismo de avaliação baseado em testes de leitura e de matemática aplicados pelo Ministério da Educação (MEC) na rede pública urbana de 5,3 mil municípios, em colégios municipais e estaduais com turmas de pelo menos 20 estudantes.

Segundo o estudo, das 27 capitais brasileiras, incluindo o Distrito Federal, somente os alunos das escolas públicas de Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Recife (PE), Florianópolis (SC) e Boa Vista (RR) atingiram em 2007 as metas de aprendizagem de língua portuguesa na 4ª série do ensino fundamental. A situação mais grave está na 8ª série do ensino fundamental, onde, para cada grupo de 10 estudantes, menos de 3 adquirem os conhecimentos adequados de português. "Os números são vexatórios", diz o estudo, depois de lembrar que os alunos que ficaram abaixo da meta não conseguem interpretar um texto nem acompanhar os mais elementares livros didáticos.

As médias de aproveitamento mais baixas foram registradas no Norte e no Nordeste, as duas regiões mais pobres do País. E, em alguns Estados, o desempenho dos estudantes em 2007 caiu em relação aos anos anteriores. No Rio de Janeiro, por exemplo, em 2005, 33,05% dos alunos das escolas públicas demonstraram nível de conhecimento de português adequado à série. Em 2007, o porcentual foi de 29,07% (a meta era de 35,46%). Em termos concretos, a qualidade do ensino piorou em vez de melhorar.

Em matemática, o levantamento revela que, apesar de todas as redes municipais terem atingido as metas estabelecidas, isso não resultou necessariamente na melhoria do aprendizado. "Matemática sem leitura não serve para muita coisa", afirma o levantamento. Em Macapá (AP), por exemplo, apenas 8,52% dos estudantes sabiam os conteúdos esperados. No Rio de Janeiro, o porcentual foi de 23,20%. O melhor resultado foi alcançado em Curitiba, com 35,26%. "Existem vários Brasis e isso se reflete no ensino", diz Mozart Ramos, presidente executivo do movimento Todos pela Educação.

Em todas as capitais brasileiras, afirma o estudo, menos de um quinto dos alunos aprendeu o que deveria. Isso significa que uma importante parcela das novas gerações não sabe ler nem fazer contas, o que no futuro dificultará sua inserção numa economia formal cada vez mais sofisticada, que exige um mínimo de conhecimento de português e de matemática para compreender manuais e programar equipamentos informatizados.
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